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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O dia que assumimos ser homossexuais.



Kasha Jacqueline Nabagesera se dedica aos direitos dos homossexuais. Essa jovem africana teve de deixar seu país, Uganda, após um jornal sensacionalista ter pedido o enforcamento dela e de outros ativistas. Mas ela retornou e se nega a abandonar sua luta pela aceitação dela e dos seus compatriotas homossexuais.

“No Uganda as pessoas são, com frequência, ignorantes sobre homossexualidade”, explica Nabagesera com sua voz suave suave. “Quando você vai para Campala (a capital de Uganda) e pergunta sobre homossexuais, eles irão dizer: 'Mate-os!' E quando você pergunta o porquê, eles respondem que “é porque o meu pastor na igreja disse que isso é um pecado contra Deus, ou porque os políticos dizem que é um crime. Por isso que queremos mata-los”.

Homossexualidade ainda é um tabu na maior parte da África, e é ilegal em muitos países. A questão se tornou particularmente odiada em Uganda quando um parlamentar causou controvérsia internacional em 2009, propondo um projeto de lei que tolerava a pena de morte para alguns atos de homossexualidade. A medida foi abandonada no início desse ano, parcialmente devido a pressão de um número de líderes mundiais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Nabagesera nunca pensou em ser uma ativista: “Fui expulsa de cinco escolas porque me recusava a me vestir 'adequadamente' como uma mulher. Eu gosto de usar roupas de meninos, então eu continuei vestindo jeans, camiseta e tênis. Finalmente consegui me formar porque minha mãe disse na última universidade que eu tinha uma doença mental. Mas o que eu não entendia era porque ser lésbica me causou tantos problemas. Eu fui a um cyber café para buscar mais informações sobre homossexualidade em Uganda e eu descobri que é ilegal. Eu vivia uma vida homossexual abertamente e as pessoas pensavam que o que eu fazia era por ser mimada. Mas, na verdade, era porque eu era inocente, eu não tinha a menor ideia”.


Quando soube que haviam leis que criminalizavam seu estilo de vida, Nabagesera foi em busca de grupos que apoiavam a comunidade LGBT (lésbicas, gays, bi-sexuais e transgêneros). “Contatei uma organização LGTB da África do Sul e fundei a FARUG (Freedom and Roam Uganda), que depois se uniu à organização SMUG (Minorias Sexuais da Uganda). Nossa estratégia era simples: aumentar a consciência na nossa comunidade. Nós organizávamos workshops, fazíamos reuniões e tentávamos analisar o código penal e a constituição”.

Enfrentando uma difícil realidade
Primeiro, Nabagesera e seus colegas ativistas sentiram que eles estavam progredindo mas depois a situação em Uganda foi piorando. Os jornais sensacionalistas começaram uma campanha de ódio em 2006, publicando nomes e fotos de homossexuais com manchetes de capa como “terror homossexual”. Em 2010, o nome de Nabagesera foi mencionado no Rolling Stone, um jornal de Uganda, com a seguinte manchete: “Enforque-os: eles estão atrás dos seus filhos”. Nabagesera e seu amigo e ativista David Kato processaram o jornal. Eles ganharam o caso, mas logo depois, Kato foi assassinado a cacetadas em sua casa.

“O estrago foi feito”, diz Nabagesera com voz trêmula. “E continua assim. Desde que David morreu, as pessoas tem que mudar ou fugir do país. Uma organização de direitos humanos me tirou de Uganda por dois meses e quando eu voltei o proprietário da casa onde eu morava me despejou.

A morte de Kato forçou muitos ativistas pelos direitos LGTB a encarar a realidade. “Nós sempre pensamos ‘isso pode acontecer comigo amanhã’... mas eu e muitos outros dissemos: “é o momento que nós precisamos ficar juntos e lutar”. Mas outros na comunidade ficaram com medo e voltaram para o armário. A maneira como David foi assassinado foi tão brutal, e também como o governo reagiu... eles disseram que não era crime e que esse assassinato não estava relacionado à sexualidade de Kato”.

 Passo a passo
 Então como alguém pode continuar em uma revolução quando sua vida está ameaçada e o governo e a igreja são contrários? “Não temos pressa”, explica Nabagesera. “Não podemos simplesmente mudar a lei no papel se nossa mente continua a mesma. Passo a passo, precisamos sensibilizar a população, criar conscientização, mudar as atitudes e as mentalidades. É um grande desafio, mas no final queremos ser liberados, queremos igualdade, queremos justiça”.

Nabagesera ganhou recentemente o prestigioso premio Martin Ennals, para ativistas pelos direitos humanos. “Me dá esperança saber que não estamos sós nessa luta. Eu sei que o mundo está nos observando. Sabíamos desde o começou que nossa luta não seria fácil, sabíamos dos sacrifícios que deveríamos fazer. O dia que nós assumimos ser homossexuais foi o dia que começou nossa revolução.”

Fonte : www.rnw.nl/     por Saskia Houttuin

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