Por Jean Wyllys, em sua página no
Facebook:
Amigos e seguidores me
questionaram privada ou publicamente se Celene Carvalho - a fascista que
insultou, aos gritos, Eduardo Suplicy e o prefeito Fernando Haddad na Livraria
Cultura, em São Paulo, há alguns dias, e cujo vídeo da agressão viralizou na
internet - é mesmo filiada do PSOL. Como, no momento do questionamento, eu não
sabia a resposta (afinal de contas, o PSOL tem representação em quase todo o
Brasil e eu não conheço nem um centésimo dos seus filiados), eu me calei e fui
pesquisar.
Para minha surpresa e
infelizmente, Celene era, sim, filiada ao PSOL de São Lourenço, Minas Gerais.
Ela inclusive foi candidata pelo partido numa das eleições passadas. A
representação do PSOL em Minas informou que já havia pedido o afastamento da
fascista. Porém, como o pedido de afastamento não fora devidamente encaminhado
à Comissão de Ética da direção nacional do partido, Celene continuava constando
da lista de filiados do PSOL. Mas, com esse episódio, a direção nacional do
partido vai acelerar a expulsão da fascista.
Apesar de criterioso e rigoroso
em seu processo de filiação, o PSOL não está imune a infiltrações de pessoas
que nada têm a ver com seu programa nem ideologia. Algumas dessas infiltrações
se devem à disputa interna ao partido entre suas diferentes tendências; outras
se devem a tentativas deliberadas, por parte de outras legendas, de
desqualificar um partido cada dia mais respeitado pela opinião pública.
Creio que se Celene tenha se
infiltrado no PSOL devido às disputas internas. Tendo em mente apenas a
informação de que o partido nascera de uma dissidência do PT, a fascista deve
ter achado que o PSOL seria terreno fértil para seu antipetismo doentio e
certamente contou com o apoio de algum dirigente que pretendia usá-la nas
disputas internas.
Celene nada tem a ver com o PSOL
nem com suas figuras públicas. Ela está mais bem próxima do demo-tucanato (ou
seja, das ideias antipetistas comuns ao PSDB e ao DEM) e dos fascistas com
colunas na "grande mídia", tanto que, em seu perfil no Facebook, pululam
selfies com Aécio Neves, Reinaldo Azevedo et caterva, sem falar de sua
idolatria ao juiz Sérgio Moro.
O PSOL que meus companheiros de
bancada e eu representamos está tão longe de Celene que os grupelhos de
analfabetos políticos pró-impechment de Dilma que atuam na internet em sintonia
com parlamentares do DEM e do PSDB (grupelhos que a fascista tanto admira e dos
quais compartilha postagens em seu perfil na rede social) vivem nos acusando de
"linha auxiliar do PT" e duvidando da oposição que fazemos ao governo
da presidenta Dilma.
Celene cabe perfeitamente naquela
já clássica fotografia em que parlamentares do PSDB, DEM e PPS e outros do
baixíssimo clero da Câmara Federal e "líderes" dos grupelhos de
analfabetos políticos pró-impechment aparecem sorridentes e de dedo em riste ao
lado do presidente da casa, Eduardo Cunha, denunciado formalmente - e com
robustas provas - pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro (inclusive em
igreja evangélica) e evasão ilegal de divisas. Celene comunga da mesma indignação
seletiva dessa gentalha que quer o impechment de uma presidenta da República
sobre qual não pesa qualquer denúncia de crime algum, mas apoia um presidente
da Câmara Federal que todos sabemos ser, devido investigações dos ministérios
públicos suíço e brasileiro, um criminoso contumaz e cínico.
Aliás, graças a esse apoio, os
grupelhos de analfabetos políticos ganharam, de Eduardo Cunha, o direito de
violarem, com a complacência e a proteção da Polícia Legislativa, o Ato da
Mesa, em vigor desde 2001, que proíbe acampamentos e palanques em frente ao
Congresso Nacional. O patrimônio histórico e cultural se encontra manchado pelo
verde-oliva das barracas de camping caras erguidas sobre o gramado pelos
grupelhos pró-impechment (ao mesmo tempo, a Polícia Legislativa proibiu que
sem-teto, indígenas e movimentos que pedem o afastamento de Cunha ali se
instalassem!). A imprensa não disse o "a" a respeito dessa
ilegalidade! (Imaginem o que diriam se fossem as barracas do MST!)
Antes de insultar Suplicy e Haddad,
Celene fizera parte de um grupo que tentou constranger Dilma e Lula durante uma
festa de casamento para qual foram convidados. Sua postura, entretanto, não é
isolada nem está fora do contexto de crise política que vivemos. Ela é parte do
"cotidiano autoritário" que se engendrou no Brasil durante e após as
eleições de 2014 em função da linha de atuação adotada pelo PSDB e que é
analisado pela filósofa Marcia Tiburi em seu novo e necessário livro "Como
conversar com um fascista - reflexões sobre o cotidiano autoritário
brasileiro" (Editora Record), do qual tive a honra de assinar o prefácio.
Celene é produto da desonestidade
intelectual e da má fé de editores, colunistas e articulistas que atuam na
chamada "grande mídia" e que deformam o imaginário e o caráter de sua
audiência com coberturas parciais, meias-verdades, boatos alçados à condição de
fatos, declarações selecionadas e mentiras deliberadas. Não preciso citar seus
nomes. Celene é fruto da canalhice e da demagogia da oposição de direita na
Câmara Federal e no Senado, blindada por editores, articulistas e colunistas da
"grande mídia".
O episódio de Celene dá sequência
ao macartismo tupiniquim (muito em vigor durante a ditadura militar!) e que já
vitimou Guido Mantega, Alexandre Padilha, José Eduardo Cardoso, Stédile, Jô
Soares, Marieta Severo, o rapper Flávio Renegado, os médicos cubanos, os
imigrantes haitianos e o casal de intelectual de Perdizes. O mesmo macartismo
que, ontem, decidiu, numa expressão sem precedentes da burrice motivada ou da
má fé deliberada, atacar o último ENEM por conter questões sobre a persistente
violência contra a mulher e sobre o racismo na sociedade brasileira.
Em seu maravilhoso "Como
conversar com um facista", Marcia Tiburi chama atenção para o papel da
burrice - aquilo que Hannah Arendt caracteriza como "vazio do
pensamento" - na banalização do mal a que assistimos ora chocados ora
silentes. O fascista não pensa nem reflete criticamente: apenas repete
afirmações que estão de acordo com os preconceitos que carrega em si há tempos
e dos quais não conseguiu se livrar. "O fascismo é a máscara mortuária do
conhecimento", explica a filósofa em seu livro.
Os que se calam hoje diante da
escalada do fascismo no Brasil, por conveniência, preguiça ou egoísmo, não têm
ideia do que lhes espera no futuro se esse mal não for devidamente contido. O
fascismo e o nazismo aniquilaram milhões de seres humanos com requintes de
crueldade pelo simples fato de estes serem judeus, homossexuais, ciganos e
comunistas. Não se esqueçam disso!
Peço muitas desculpas a Suplicy e
a Haddad, homens públicos que gozam do meu respeito e da minha admiração. O
PSOL repudia veementemente não só as agressões de Celene como também o
antipetismo odioso expresso pela "grande mídia", pelos partidos de oposição
de direita e pelas hostes fascistas na internet (sempre juntos e misturados!).
Só a parte obtusa da militância petista nas redes sociais - obtusa e adepta da
má fé como sua contraparte tucana - pode achar e dizer que o PSOL endossaria
essa barbárie. Por outro lado, o demo-tucanato pode me chamar à vontade de
"linha auxiliar do PT" se isso significar se colocar contra a
estupidez e a desonestidade intelectual dos que atacam a agenda e as figuras
públicas petistas comprometidas com a justiça social!
Jamais sejamos complacentes com
fascistas. Reajamos sempre às suas ações. Mas, num gesto humanitário que nos
cabe, apiedemo-nos dessas almas pequenas; elas foram envenenadas por canalhas
que, ao contrário de nós, estão pouco interessados num mundo mais justo e humano.
Fonte: blog do miro
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