"Europa faz água por todos os
lados. O que aconteceu? Simplesmente éramos os sujeitos da história. E agora
somos seus objetos. A correlação de forças se inverteu, a descolonização está
em curso: tudo o que nossos mercenários podem tentar é retardar sua realização”.
Jean Paul Sartre
Buenos Aires- Stella Calloni. O cinismo criminoso com que os meios de comunicação e governos
europeus lidam com o tema da imigração, instalando a falsa ideia de que a
Europa é a “vítima” desta situação, tem ultrapassado todos os limites e reforçado
o fascismo com que hoje as grandes potências tratam suas “relações
internacionais” e também internas.
Se os governos europeus, que
afundaram seus próprios países em função da estratégica expansão global do
império, dilapidando milhões de dólares para “pagar” as armas de destruição em
massa que utiliza a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) querem uma
solução, esta é retirar suas tropas dos países invadidos e ocupados no decorrer
do século XXI.
Se ordenassem ao Exército
Islâmico, constituído por mercenários de 80 países do mundo – que de islamitas
só têm o nome – utilizados como uma nova estratégia para disfarçar a invasão de
tropas terrestres e bombardeios contra a Síria, não precisariam levantar muros
contra os imigrantes.
A imagem de um menino, recolhido
em uma praia da Turquia após um naufrágio de dezenas que ocorrem ante a
indiferença dos organismos internacionais e do mundo em geral, é só a ponta do
iceberg da tragédia.
É necessário advertir neste caso,
que foram apontadas suspeitas e alguns analistas europeus têm advertido sobre a
não remota possibilidade de que isto seja – como ocorreu em outras situações
similares – a utilização da tragédia para que a OTAN termine bombardeando o
governo de Bashar Al-Assad, democraticamente eleito por seu povo.
Surpreende, por exemplo, que a
Comissão de Investigação da ONU tenha publicado seu último relatório sobre
violações dos direitos humanos na Síria, “após centenas de horas de
investigações detalhadas”. Assinala-se que novamente a investigação encontrou
evidências de abusos e violações de direitos humanos na Síria, “em particular
os do regime sírio”.
Comentando sobre o relatório,
Tobías Ellwood, ministro para o Oriente Médio de Relações Exteriores do Reino
Unido, disse que “este último relatório da ONU descreve violações atrozes dos
direitos humanos na Síria. O regime de Al-Assad é responsável pelos abusos em
grande escala, com a continuação do uso indiscriminado de bombas de canhão,
artilharia, armas químicas e detenção ilegal e tortura”.
E acrescenta que “as ações do
ISIL e outros grupos extremistas são brutais e desumanas, com abusos incluindo
múltiplas execuções sumárias, a escravidão sexual de mulheres yazidi e
recrutamento forçado de meninos soldados (…) O Reino Unido condena nos termos
mais enérgicos todas as violações de direitos humanos que estão ocorrendo na
Síria diariamente. Temos que deter os autores e temos que ver uma solução
política para este conflito, livrar a Síria da ditadura, e ajudar a derrotar o
flagelo do ISIL”.
Podemos interpretar o que
significa “livrar a Síria da ditadura”. Será a justificativa para invadir
abertamente a Síria? O espantoso é que neste mesmo momento apareça o relatório
da ONU como se tivesse uma coordenação especial para justificar o que não
puderam fazer até agora.
ALGO PARA RECORDAR
Precisamente, as verdadeiramente
neutras personalidades que visitaram a Síria sabem de onde vêm as armas
químicas, os bombardeios, os massacres terríveis e as violações. Freiras
católicas sírias têm denunciado os mercenários e os invasores por estes crimes
de lesa humanidade.
A pergunta é se mais uma vez,
como fizeram na Líbia, a ONU aparecerá como cúmplice da “solução final”, isto
é, cumprir com o que desde o início adiantou a ex-secretária de Estado
norte-americana Hillary Clinton, advertindo que não interessava o diálogo nem
as propostas do governo sírio, ao qual negam o direito a se defender. Sem
nenhuma diplomacia a senhora Clinton afirmou que o que seu governo decidiu é
que Bashar Al-Assad seja derrubado. Em nome do “humanitarismo” e da
“democracia”, logicamente.
São milhares e milhares as
crianças assassinadas nos bombardeios da OTAN ou de forma hedionda pelos
mercenários, que utilizam esta organização para encobrir a presença em ações
terrestres de suas “forças especiais”. É necessário que o mundo diga BASTA às
guerras coloniais no Oriente Médio, África do Norte, Ásia, Europa, disfarçadas
de supostas “guerras civis” como estamos vendo na Síria.
Chamar de guerra contra o
terrorismo as guerras para usurpar territórios e controlar recursos em um
projeto de expansão imperial global é um dos argumentos mais perversos na
história do mundo.
A maior ação terrorista da
atualidade são as invasões militares que a OTAN protagoniza com suas hordas
mercenárias sobre países indefesos frente ao poder militar das potências. Estas
utilizam novas tecnologias, as armas e os equipamentos mais sofisticados de
todos os tempos.
E os meios de comunicação do
poder hegemônico marcando agendas e pautas que se incluem nas notícias do
mundo, controlados em 95% pelo Pentágono estadunidense e seus sócios da Europa,
mantêm a guerra psicológica em atividade permanente, mediante o bem denominado
“terrorismo midiático”.
O jornalismo, seja de direita ou
de alguma suposta esquerda perdida em labirintos e ambiguidades não pode
continuar chamando de “guerra civil” o que ocorre na Síria. Nunca foi. Desde o
início, em 2011, foi uma invasão imperial, disfarçada de exércitos “sírios livres”,
constituídos em Londres ou Paris, equiparáveis com o que foram os “contras”
nicaraguenses nos anos 80, desde suas bases em Honduras contra a Nicarágua
sandinista, e que o governo dos Estados Unidos chamava de “combatentes da
liberdade”.
Ou já se esqueceram dos hediondos
crimes nas aldeias nicaraguenses próximas à fronteira com Honduras? É tão fácil
esquecer o horror? É tão difícil não reconhecer o rosto do fascismo em tudo o
que está acontecendo?
Quando os Estados Unidos anuncia
o envio de armas aos “dissidentes” sírios, do que está falando? Quando os
invasores se encontram como “amigos do povo sírio” para reunir fundos
milionários destinados a pagar os salários dos mercenários e comprar mais
armas, como dizem abertamente, pode se tratar de uma guerra civil?
Líbia foi um poderoso ensaio do
uso das fronteiras para semear um cenário de supostos “dissidentes”, na
realidade mercenários sob controle de forças especiais.
Em novembro de 2010, o próprio
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, admitiu ter enviado à zona
fronteiriça da Líbia, a CIA e as Forças Especiais, especialistas em
contrainsurgência e guerras sujas.
E se algo faltar é necessário
recordar aquela declaração do general norte-americano (já na reserva) Wesley
Clark, que relatou à jornalista Amy Goodman, do Democracy Now em março de 2007,
que assustado tomou conhecimento de que a administração de (George W.) Bush
pensava invadir e ocupar sete países em cinco anos: Iraque, Síria, Líbano,
Líbia, Somália, Sudão e Irã.
Nos últimos dias, ante a tragédia
dos imigrantes, Pablo Iglesias, dirigente do “Podemos” na Espanha, denunciou à
rádio espanhola “Cadena Ser” que as políticas “militaristas da União Europeia e
Estados Unidos avivaram as chamas da guerra e criaram o terrorismo no Oriente
Médio”.
E mais ainda, afirmou que “o que
trazem os governos mais conservadores dos EUA é destruição, instabilidade e
terrorismo, porque os que estão por trás do surgimento de grupos como ISIL
(Exército Islâmico) são aqueles que ativaram com gasolina o fogo dos conflitos”.
É necessário recordar que a
direção da Al-Qaeda, uma organização surgida pelas mãos dos Estados Unidos no
Afeganistão (os talibãs) para lutar contra a União Soviética nesse país, eram
inimigos ferrenhos de Saddam Hussein no Iraque. Como ingressaram nesse país?
Simplesmente pelas mãos da OTAN,
quando já haviam ocupado o Iraque e se transformaram na força mercenária de
elite em todas as operações de guerra suja, que tanto os EUA como a UE e Israel
realizaram até agora contra os Estados não alinhados da região.
E o que dizer do surgimento de um
dia para o outro do Exército Islâmico, armado até os dentes, não com velhos
fuzis, mas com frotas de veículos novos, tanques, mísseis, armas químicas,
helicópteros e aviões? Além disso, contam com estúdios de TV e a indispensável
ajuda da Arábia Saudita, os traidores e entreguistas de seus irmãos árabes. Os
supostos “fundamentalistas islâmicos” que enviam vídeos do horror, com
degolamentos filmados e também práticas de torturas – que raros mas honestos
jornalistas europeus denunciaram – e que têm produzido matanças de uma
crueldade inimaginável, agora também se dedicam a fazer “desaparecer” todos os
lugares Patrimônios da Humanidade, como fizeram no Iraque, na Líbia, e agora na
Síria, destruindo a maravilhosa cidade-relíquia de Palmira.
Esta é a evidência mais clara, de
que por trás da criação do ISIL – que assustadoramente “não podem deter” todas
as forças militares das potências envolvidas no local – há setores de
inteligência para impor um desenho de recolonização e domínio que obedece a um
projeto muito superior ao que podem ter como objetivo os brutais mercenários.
Nada menos que destruir, tornar
em pedaços a memória, a identidade dos povos, as impressões mantidas durante
séculos, o que também significa implodir a memória da humanidade.
A destruição de ruínas
históricas, de cidades como Palmira na Síria, o roubo dos tesouros da
Biblioteca de Alexandria e o desmonte de tantos lugares históricos, não pode
ser um objetivo de brutais “homens de palha” do mercenarismo.
Que diríamos nós, se entrassem em
nossos países fazendo voar pelos ares as pirâmides no México, o Cuzco, as
lembranças culturais de nosso continente? Diríamos que vêm com tudo, apagando
toda a marca cultural, para que a colonização seja perdurável.
Seria o grande sonho do governo
de Israel o “Oriente Médio Ampliado”, ocupado, despovoado graças ao mercenarismo
e às bombas, e sem um resquício da memória cultural que faz a identidade dos
povos e seus projetos de libertação.
Se os governos europeus querem
uma solução humanitária, esta não é “repartir refugiados” ou afundar barcos que
tentem transportá-los quando fogem da guerra. Devem escolher entre “a solução
final” que parece ser o projeto destas cruéis invasões ou a solução humanitária
real que significaria abandonar a ilegal ocupação colonial nessa região e deter
a matança de povos agredidos e a assustadora destruição desses países.
Enquanto a Europa continuar
avançando atrás das necessidades geoestratégicas de um império em decadência,
que propõe uma ditadura global, ou dos sonhos fascistas do governo israelense
de se estender sobre todo o Oriente Médio, o que supõe novos genocídios na
região, as vítimas continuarão chegando em massa exigindo proteção aos
responsáveis por sua tragédia. E não terá muro que resista.
Como era previsível, a comoção
mundial que produziu a imagem de um menino sírio afogado em um dos tantos
naufrágios dos que fogem da guerra é utilizada neste momento pelas potências
para ativar bombardeios na Síria, terminar com a resistência do povo e o
governo de Bashar Al-Assad, e sua defesa legítima contra a invasão desse país
desde 2011.
Mentindo para suas próprias
populações graças à imprensa, neste caso parte indispensável da guerra colonial
que se aplica aos sírios, o primeiro-ministro britânico David Cameron e o
presidente da França François Hollande decidiram tomar atitudes contra o “Exército
Islâmico” na Síria, o que significa atacar esse país de forma encoberta.
Segundo o presidente francês,
atuarão para “fazer frente às ameaças que pesam sobre nosso país, eu pedi ao
ministro de Defesa que, a partir de amanhã, possam ser colocados em marcha voos
de reconhecimento sobre a Síria”, o que permitirá a possibilidade de ataques
contra o DAESH (Exército Islâmico) preservando nossa autonomia de decisão ou de
ação”.
Supõe-se que identificariam “os
centros de treinamento, os centros de decisões”. Essa é precisamente uma linha
muito tênue, que implica o que são chamados “danos colaterais” contra a
população síria. Porém, o que é mais grave, Hollande responsabiliza Bashar
Al-Assad pela situação.
Isto é, os invasores da Síria
responsabilizam o governo pelo que decidiram por sua conta derrubar, apesar da
Síria ter sido um país estável onde os problemas foram criados enviando tropas
especiais das potências e mercenários a partir da Turquia e de outros lugares.
Uma pergunta: Quem é Hollande ou
Cameron ou Washington para decidir sobre a vontade de um povo ou que presidente
deve governá-lo?
A PERVERSIDADE É INAUDITA
Israel já bombardeou nestes dias
deixando quase meia centena de vítimas. Quem controla o que está ocorrendo na
Síria? Onde está a ONU, onde estão os povos do mundo, os governos que não
clamam pelo fim de uma guerra colonial, cujo único objetivo previsível é
destruir um país e ocupá-lo, como têm feito sobre os novos territórios
colonizados a sangue e fogo?
Onde estão os intelectuais da
Europa, que salvo raras exceções, têm consentido este crime de lesa humanidade,
em silêncio ou, pior ainda, em cumplicidade aberta?
A perversidade destas operações é
uma demonstração da nova estratégia do Reino Unido, Estados Unidos e Israel,
além da Arábia Saudita e similares, de ter criado o chamado ISIS (Estado
Islâmico do Iraque e o Levante) para poder justificar suas ações contra a Síria
e o que possa restar de resistência no Iraque ou em outros países.
Quando se produziram os
bombardeios de 2014 contra o Exército Islâmico (EI), o que fizeram foi destruir
refinarias e infraestruturas sírias e produzir grandes massacres contra sua
população.
Foram estes países também os
criadores dos chamados “rebeldes sírios”, enquanto a verdadeira oposição ao
governo de Bashar Al-Assad, que se expressava politicamente, está dentro do
país, apoiando a resistência.
Esta oposição participou das
eleições de 2012, realizadas com mudanças constitucionais que permitiram a
participação de vários partidos. Al-Assad foi eleito por ampla maioria em meio
a guerra e de ataques terroristas que ninguém parece recordar neste momento.
Está absolutamente demonstrado,
como inclusive denunciaram freiras cristãs que trabalham na Síria, em lugares
como Alepo, onde sempre conviveram diversas comunidades, que não existiu nunca
uma guerra civil. Sabe-se que o Exército Sírio Livre estava integrado
majoritariamente por mercenários financiados e dirigidos pelas tropas especiais
das grandes potências e de Israel, o mais interessado em destruir o governo
sírio.
Tanto os Estados Unidos, como os
demais países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
financiaram e armaram – admitindo isso publicamente – a estes grupos que nunca
puderam submeter a resistência heroica do povo sírio.
Quando praticamente o governo de
Bashar Al-Assad conseguiu avançar contra redutos de mercenários e a Rússia
havia expressado sua negativa a uma intervenção direta contra a Síria, abrindo
a possibilidade de deter a guerra, de um dia para o outro apareceu o tal ISIS,
cujo poderio bélico revelava um forte financiamento.
Um exército islâmico que
curiosamente nunca atacou a Arábia Saudita, nem o Catar nem Israel. Atacou
justamente os Estados não alinhados, os países mais avançados da região, os que
estavam na lista que em 2007 foi denunciada pelo general estadunidense, já na
reserva, Wesley Clark.
Cada bombardeio contra o ISIS, no
Iraque ou na Síria, destruiu lugares que assinalavam os especialistas das
forças especiais e os espiões da OTAN. O presidente russo Vladimir Putin propôs
a Washington e seus sócios ajudar conjuntamente o governo sírio contra o
Exército Islâmico, o que jamais aceitaram.
Na realidade, Estados Unidos e
Europa invadiram a Síria desde 2011 e não se resignam a não alcançar seu
objetivo, ante a resistência do exército e do povo. Como afirmaram claramente
altos funcionários das potências: Al-Assad deve deixar o governo e se entregar
aos “rebeldes sírios” que não são nem mais nem menos que os mercenários da OTAN.
Em 27 de setembro de 2014, o
ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem (em nota na Ria
Novosti), advertia que os EUA lhe informou que iam lançar ataques durante três
anos contra o ISIS.
“Eles nos informam, mas isso não
quer dizer que aprovemos”, disse Muallem, após uma reunião com o chanceler
russo Serguéi Lavrov. Recordou também que a Coalizão liderada pelos EUA, que
lança ataques aéreos contra o EI na Síria, não foi autorizada pela ONU, de modo
que “não pode contar com legitimidade internacional”.
Além disso, analisou que “em todo
o caso, se seus ataques são dirigidos contra o EI está tudo bem. Ainda que
duvidemos de seus verdadeiros objetivos”. Inclusive, sustentou a possibilidade
de que Damasco poderia discutir o alcance dos ataques aéreos contra o EI “no
marco do Conselho de Segurança da ONU”. Mas não foi aceito.
Os danos contra as
infraestruturas sírias provocados pela coalizão encabeçada pelos EUA e que
integram Jordânia, Bahrein, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos desde
o dia 23 de setembro de 2014, justificam as dúvidas de Damasco.
As propostas russas sobre a
verdadeira paz e respeito à autodeterminação do povo sírio, que nunca quis sair
do país, apesar dos EUA e seus sócios qualificarem o governo como uma ditadura,
nunca foram aceitas.
Desde o princípio não há nenhum
governo no mundo que ignore que na Síria nunca se desenvolveu uma guerra civil
e que a verdadeira oposição apoia a resistência do governo, como o apoiam
também as comunidades que conviviam sem problemas nesse país.
Logicamente a ONU sabe
perfeitamente do que se trata. Seu imobilismo ante esta situação e ante a
evidente ilegalidade internacional destas invasões contra os países do Oriente
Médio, da Ásia e da Europa (o caso Ucrânia é patético) dão conta de que não
existe justiça internacional.
Desde o dia 7 de setembro David
Camerón e François Hollande começaram os preparativos para se “somar” à
coalizão liderada pelos Estados Unidos e “ajudar” a bombardear os objetivos do
Estado Islâmico na Síria.
Até agora, ambos países haviam se
abstido de participar nos bombardeios porque consideravam que atacando o
Exército Islâmico “ajudavam” o governo sírio.
Da mesma forma, Cameron se opunha
ao sistema de cotas para receber os refugiados que nesta semana foi anunciado
pela União Europeia, ainda que segundo revelou The Sunday Times, aceitaria
receber até 15 mil refugiados.
Para além da discussão sobre
quantos refugiados podem ou não receber os países da União Europeia, ninguém
propôs deter a guerra que desencadearam unilateralmente.
Como era previsível, a imagem do
menino afogado foi disparada mundialmente utilizando esta tragédia para
responder que “devem terminar com o que está ocorrendo na Síria”. Mas o
objetivo é tomar e ocupar a Síria.
Turquia, o país rampa da invasão
militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte decide agora bombardear os
curdos na Síria, uma das tantas comunidades que habitavam sem nenhum tipo de
problema nessa República.
“Nossa resposta até hoje tem sido
inadequada”, declarou por sua vez o ex-ministro de Defesa Liam Fox. “A política
de atacar o ISIS no Iraque e não fazer isso na Síria é manifestamente absurda”.
No entanto, conhece-se que aviões
britânicos há meses participam nos esquadrões norte-americanos e em trabalhos
de apoio aos bombardeios sobre o solo sírio, intensificados nos últimos tempos.
E que também aviões franceses participaram na coalizão dirigida desde o ano
passado pelos Estados Unidos, especialmente no Iraque.
Quem pode acreditar que toda essa
capacidade de ação não poderia deter os mercenários do ISIS antes de cruzar as
fronteiras sírias? Apenas basta olhar o mapa sem sequer ser um experiente
militar. Sem o apoio das potências invasoras, os mercenários do mundo no falso
Estado Islâmico não poderiam se sustentar nem durante uma semana, de acordo com
uma série de especialistas.
Estados Unidos atacou a Síria por
ar com drones em um primeiro momento, e depois com aviões tripulados desde o
dia 23 de setembro de 2014. De acordo com relatórios calcula-se que lançou até
2 mil e 300 ataques aéreos na Síria, ainda que sua efetividade seja duvidosa
porque produziu milhares de vítimas civis e “danos colaterais”, ou seja,
danificando a infraestrutura síria, o que consideram “inevitável”. Um total de
119 ataques sobre a Síria são atribuídos por enquanto à coalizão, na qual
também se uniram, em pelo menos quatro ocasiões, os aviões canadenses.
O que estamos vendo é que
repentinamente, em horas, surgem milhares de refugiados, no mesmo momento em
que o mundo está em estado de choque, e a ONU prepara um relatório onde frente
aos crimes hediondos dos mercenários, o maior responsabilizado pela violação
aos direitos humanos é o governo que está resistindo com todo seu direito e
dignidade à brutal invasão.
Há somente uma presença
contentora no contexto desta situação e é a da Rússia, porém o mundo deve saber
que se a Síria cair, cairão muitos mais: Líbano já está experimentando supostas
“primaveras”; e depois, para onde seguirão enquanto os povos europeus se
afundam cada vez mais no abismo para o qual arrastam seus governos?
* Stella Calloni é prestigiada
intelectual argentina.
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=c91b95cae675d1368cf88f9a3da58e01&cod=15792
Fonte: PCB
Nenhum comentário:
Postar um comentário