por Nikolai Bobkin
A administração estado-unidense
lançou o processo de obtenção da aprovação do Congresso para um ataque contra a
Síria. O comité de negócios estrangeiros do Senado votou pela resolução de
apoio à acção planeada. O próximo passo é levar a moção ao plenário do Senado e
a seguir à Câmara dos Deputados para receber apoio bipartidário. Deste modo
Washington está a tentar fazer com que a decisão de atacar a Síria pareça
legítima, ainda que esteja a contornar o Conselho de Segurança das Nações
Unidas.
A previsão de que a guerra se espalhará para
abarcar todo o Médio Oriente caso os Estados Unidos ataquem a Síria está a
tornar-se verdadeira. Como era de supor, o primeiro actor externo a ser
envolvido é o Irão. O alistamento está em curso, jovens iranianos estão
desejosos de envergar o uniforme e defender a Síria. O número de voluntários é
de aproximadamente 100 mil. Eles enviaram uma carta ao presidente da Síria a
pedirem sua permissão para serem posicionados na área das Alturas do Golan...
Eles querem que o seu governo
providencie uma ponte aérea para a Síria através do espaço aéreo iraquiano. O
Iraque é o país com maior população xiita; é alta a probabilidade de que
milhares de xiitas venham a juntar-se aos voluntários iranianos. Se Obama
queria que as brigas inter-religiosas no Médio Oriente se transformassem numa
carnificina de âmbito universal, agora ele pode conseguir isso, ou, para ser
mais exacto, ele pode provocar o seu arranque na Síria com o lançamento dos
mísseis Tomahawk contra este país.
É a Síria que está à vista, mas o alvo
principal é a República Islâmica do Irão. A política do recém-eleito presidente
Rouhani está voltada para a normalização das relações com o Ocidente e a travar
o isolamento internacional. Isto provoca preocupação entre os círculos
dirigentes dos Estados Unidos e Israel. Desde há muito os americanos têm estado
a culpar o Irão por todas as perturbações no Médio Oriente, mesmo quando era
claro que o Irão nada tinha a ver com o que aconteceu.
Pode soar como um paradoxo, mas a
disponibilidade de Teerão para começar as conversações sobre o programa nuclear
foi percebida pela administração Obama como uma ameaça aos seus interesses. De
acordo com a lógica da Casa Branca, os EUA podem perder o seu principal
argumento na confrontação com Teerão. Portanto as sanções dos EUA não
instilarão mais medo. A Europa já está a enviar sinais não ambíguos a
demonstrar que espera um progresso real a ser alcançado nas conversações. Os
EUA não têm laços comerciais e vêem as sanções como uma alavanca eficaz no
impasse ao passo que os europeus enfrentam perdas de muitos milhares de
milhões.
O argumento da "ameaça nuclear
iraniana" tornou-se uma obsessão para Washington após a saída de
Ahmadinejad. Ele cumpre plenamente a intenção de encontrar um pretexto para a
guerra. A fase síria da operação militar está para arrancar em breve.
O Irão não precisa de guerra. Os iranianos, ao
invés, querem que Obama pondere seriamente as consequências de tal acção
deixando-o saber que não há nenhuma maneira para que possa ocultar-se por trás
do Congresso. O ministro iraniano dos Estrangeiros, Mohammad Javad Zarifsaid,
disse: "O sr. Obama não pode interpretar e mudar o direito internacional
com base na sua própria vontade". E acrescentou que "Só o Conselho de
Segurança da ONU, sob circunstâncias especiais, pode autorizar uma acção
colectiva, e isso será sob o Capítulo 7 da Carta da ONU, e esta questão precisa
da aprovação do Conselho de Segurança". De um modo geral isso coincide com
a posição da Rússia.
Teerã não vê intriga no facto de que o
Congresso acabará finalmente por sancionar a guerra contra a Síria, apenas está
curiosa por ver como os legisladores dos EUA farão isso sob o pretexto de
"punir" a Síria por utilizar armas químicas enquanto contornam a questão
iraniana. Os membros do Congresso
inevitavelmente considerarão o "factor iraniano". Ao apelar pela guerra contra a Síria, o
secretário de Estado John Kerry tenta convencer os legisladores de que, se
nenhuma acção for tomada contra a Síria, é mais provável que o Irão avance no
seu programa nuclear.
Kerry não discute sobre a
disponibilidade de ligação directa entre os eventos na Síria e o programa
nuclear iraniano, ele simplesmente declara a posição da Casa Branca. O
secretário da Defesa Chuck Hagel diz que não efectuar acção contra a Síria
minará a capacidade de Washington para conter os esforços nucleares iranianos.
O Congresso dos EUA está sob forte influência do lobby judeu e os argumentos
funcionam porque, sendo hostil à Síria, Israel sempre teve o Irão em mente.
Onde exactamente é desenhada a
"linha vermelha" representa uma questão de importância menor para os
políticos israelenses. Alguns republicanos no Congresso não só apoiam a acção
contra a Síria como clamam por uma intervenção de maior escala dizendo que um ataque limitado não será suficiente para
assustar seriamente o Irão. Um ataque contra a Síria é provável que faça Teerã
incremente a sua segurança, incluindo a aquisição de armas nucleares como um
dissuasor universal... Isto é uma
advertência razoável à qual não se presta atenção.
Tendo o Irão em vista, uma
provocação militar contra a Síria destina-se também a aumentar o desacordo nas
fileiras da liderança iraniana. Washington espera que políticos voltados para a
guerra venham a prevalecer e o governo iraniano terá de ceder e abandonar
abordagens equilibradas à questão. Na verdade, apenas há poucos meses tais
ameaças abertas de Washington teriam alimentado uma tempestade de respostas, o
antigo presidente Ahmadinejad costumava dar o tom. Agora o Irão parece estar
extremamente contido. Falando a Obama na sua ausência, o ministro da Defesa do
Irão, Brig. Gen. Hossein Dehghan, utiliza linguagem diplomática adequada e
insiste em que todos os problemas deveriam ser resolvidos por meios políticos.
Contudo, a contenção pública do novo governo
iraniano não deveria dar ilusões aos americanos. Não é com burocratas do
governo que eles terão de tratar casos comecem acções de combate, mas sim com
as forças armadas da República Iraniana –
o garante da retaliação no caso de o país ser atacado.
O chefe dos assessores do Irão, Hassan
Firouzabadi, foi citado a declarar que se os EUA atacarem a Síria, Israel será
atacado. Não é casual que voluntários iranianos que estão a ir defender a
Síria, não tenham interesse em serem posicionados nas áreas adjacentes às
fronteiras com a Turquia ou Jordânia. Não, eles querem estar nas Alturas do
Golan – a linha da fronteira síria-israelense disputada desde há muito. Um
ataque potencial feito pelo Irão contra Israel em retaliação pelo ataque dos
EUA à Síria é o pior cenário de todos; este será o caso em que é impossível
evitar uma guerra em grande escala no Médio Oriente. Ao invés de tomar uma
decisão para recuar de uma acção militar contra a Síria, Obama está a empurrar o
Irão contra a parede ao encenar provocações incessantes. Como esta, por
exemplo: o recente teste de demonstração israelense como preparação para o
ataque retaliatório iraniano.
O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Fonte: Resistir info.
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