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sábado, 7 de setembro de 2013

O Irã defenderá a Síria com todo o seu poder


por Nikolai Bobkin
A administração estado-unidense lançou o processo de obtenção da aprovação do Congresso para um ataque contra a Síria. O comité de negócios estrangeiros do Senado votou pela resolução de apoio à acção planeada. O próximo passo é levar a moção ao plenário do Senado e a seguir à Câmara dos Deputados para receber apoio bipartidário. Deste modo Washington está a tentar fazer com que a decisão de atacar a Síria pareça legítima, ainda que esteja a contornar o Conselho de Segurança das Nações Unidas. 

 A previsão de que a guerra se espalhará para abarcar todo o Médio Oriente caso os Estados Unidos ataquem a Síria está a tornar-se verdadeira. Como era de supor, o primeiro actor externo a ser envolvido é o Irão. O alistamento está em curso, jovens iranianos estão desejosos de envergar o uniforme e defender a Síria. O número de voluntários é de aproximadamente 100 mil. Eles enviaram uma carta ao presidente da Síria a pedirem sua permissão para serem posicionados na área das Alturas do Golan...

Eles querem que o seu governo providencie uma ponte aérea para a Síria através do espaço aéreo iraquiano. O Iraque é o país com maior população xiita; é alta a probabilidade de que milhares de xiitas venham a juntar-se aos voluntários iranianos. Se Obama queria que as brigas inter-religiosas no Médio Oriente se transformassem numa carnificina de âmbito universal, agora ele pode conseguir isso, ou, para ser mais exacto, ele pode provocar o seu arranque na Síria com o lançamento dos mísseis Tomahawk contra este país.


 É a Síria que está à vista, mas o alvo principal é a República Islâmica do Irão. A política do recém-eleito presidente Rouhani está voltada para a normalização das relações com o Ocidente e a travar o isolamento internacional. Isto provoca preocupação entre os círculos dirigentes dos Estados Unidos e Israel. Desde há muito os americanos têm estado a culpar o Irão por todas as perturbações no Médio Oriente, mesmo quando era claro que o Irão nada tinha a ver com o que aconteceu.

Pode soar como um paradoxo, mas a disponibilidade de Teerão para começar as conversações sobre o programa nuclear foi percebida pela administração Obama como uma ameaça aos seus interesses. De acordo com a lógica da Casa Branca, os EUA podem perder o seu principal argumento na confrontação com Teerão. Portanto as sanções dos EUA não instilarão mais medo. A Europa já está a enviar sinais não ambíguos a demonstrar que espera um progresso real a ser alcançado nas conversações. Os EUA não têm laços comerciais e vêem as sanções como uma alavanca eficaz no impasse ao passo que os europeus enfrentam perdas de muitos milhares de milhões.

 O argumento da "ameaça nuclear iraniana" tornou-se uma obsessão para Washington após a saída de Ahmadinejad. Ele cumpre plenamente a intenção de encontrar um pretexto para a guerra. A fase síria da operação militar está para arrancar em breve.

 O Irão não precisa de guerra. Os iranianos, ao invés, querem que Obama pondere seriamente as consequências de tal acção deixando-o saber que não há nenhuma maneira para que possa ocultar-se por trás do Congresso. O ministro iraniano dos Estrangeiros, Mohammad Javad Zarifsaid, disse: "O sr. Obama não pode interpretar e mudar o direito internacional com base na sua própria vontade". E acrescentou que "Só o Conselho de Segurança da ONU, sob circunstâncias especiais, pode autorizar uma acção colectiva, e isso será sob o Capítulo 7 da Carta da ONU, e esta questão precisa da aprovação do Conselho de Segurança". De um modo geral isso coincide com a posição da Rússia.

 Teerã não vê intriga no facto de que o Congresso acabará finalmente por sancionar a guerra contra a Síria, apenas está curiosa por ver como os legisladores dos EUA farão isso sob o pretexto de "punir" a Síria por utilizar armas químicas enquanto contornam a questão iraniana.  Os membros do Congresso inevitavelmente considerarão o "factor iraniano".  Ao apelar pela guerra contra a Síria, o secretário de Estado John Kerry tenta convencer os legisladores de que, se nenhuma acção for tomada contra a Síria, é mais provável que o Irão avance no seu programa nuclear.

Kerry não discute sobre a disponibilidade de ligação directa entre os eventos na Síria e o programa nuclear iraniano, ele simplesmente declara a posição da Casa Branca. O secretário da Defesa Chuck Hagel diz que não efectuar acção contra a Síria minará a capacidade de Washington para conter os esforços nucleares iranianos. O Congresso dos EUA está sob forte influência do lobby judeu e os argumentos funcionam porque, sendo hostil à Síria, Israel sempre teve o Irão em mente.
Onde exactamente é desenhada a "linha vermelha" representa uma questão de importância menor para os políticos israelenses. Alguns republicanos no Congresso não só apoiam a acção contra a Síria como clamam por uma intervenção de maior escala dizendo que  um ataque limitado não será suficiente para assustar seriamente o Irão. Um ataque contra a Síria é provável que faça Teerã incremente a sua segurança, incluindo a aquisição de armas nucleares como um dissuasor universal...  Isto é uma advertência razoável à qual não se presta atenção.

Tendo o Irão em vista, uma provocação militar contra a Síria destina-se também a aumentar o desacordo nas fileiras da liderança iraniana. Washington espera que políticos voltados para a guerra venham a prevalecer e o governo iraniano terá de ceder e abandonar abordagens equilibradas à questão. Na verdade, apenas há poucos meses tais ameaças abertas de Washington teriam alimentado uma tempestade de respostas, o antigo presidente Ahmadinejad costumava dar o tom. Agora o Irão parece estar extremamente contido. Falando a Obama na sua ausência, o ministro da Defesa do Irão, Brig. Gen. Hossein Dehghan, utiliza linguagem diplomática adequada e insiste em que todos os problemas deveriam ser resolvidos por meios políticos.

 Contudo, a contenção pública do novo governo iraniano não deveria dar ilusões aos americanos. Não é com burocratas do governo que eles terão de tratar casos comecem acções de combate, mas sim com as forças armadas da República Iraniana –  o garante da retaliação no caso de o país ser atacado.

 O chefe dos assessores do Irão, Hassan Firouzabadi, foi citado a declarar que se os EUA atacarem a Síria, Israel será atacado. Não é casual que voluntários iranianos que estão a ir defender a Síria, não tenham interesse em serem posicionados nas áreas adjacentes às fronteiras com a Turquia ou Jordânia. Não, eles querem estar nas Alturas do Golan – a linha da fronteira síria-israelense disputada desde há muito. Um ataque potencial feito pelo Irão contra Israel em retaliação pelo ataque dos EUA à Síria é o pior cenário de todos; este será o caso em que é impossível evitar uma guerra em grande escala no Médio Oriente. Ao invés de tomar uma decisão para recuar de uma acção militar contra a Síria, Obama está a empurrar o Irão contra a parede ao encenar provocações incessantes. Como esta, por exemplo: o recente teste de demonstração israelense como preparação para o ataque retaliatório iraniano.
O original encontra-se em  www.strategic-culture.org/...

 Este artigo encontra-se em  http://resistir.info/ .


Fonte: Resistir  info.

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