Da Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
Em setembro de 2012 a revista
científica Food and Chemical Toxicology publicou uma pesquisa, liderada pelo
cientista francês Gilles-Eric Séralini, professor da Universidade de Caen, na
França, demonstrando que ratos alimentados com o milho transgênico da Monsanto
NK603, tolerante ao herbicida glifosato, bem como ratos expostos em sua dieta
ao próprio glifosato, apresentam maior propensão ao desenvolvimento de tumores.
A pesquisa caiu como uma bomba junto à opinião pública, uma vez que o milho
em questão é amplamente cultivado nos países grandes produtores e exportadores
de grãos (Brasil, EUA e Argentina) e seu consumo alimentar é autorizado até
mesmo na Europa, onde existe maior resistência aos transgênicos. Provocou
também grande mal estar entre os órgãos oficiais responsáveis pela avaliação e
liberação comercial de transgênicos, uma vez que, além de apontar graves
problemas em um produto já liberado, evidenciou a frouxidão dos critérios de
avaliação de biossegurança adotados.
Como tem acontecido sempre que
novas evidências apontando riscos de produtos transgênicos são publicadas, logo
após a publicação os autores da pesquisa começaram a ser alvo de uma articulada
e agressiva onda de ataques. Entre outros, criticaram-se as análises
estatísticas realizadas, acusou-se a espécie de ratos utilizada no estudo de
ser “naturalmente propensa ao desenvolvimento de tumores” e acusou-se o número
de ratos empregados no experimento de insuficiente para sustentar as conclusões
apresentadas.
Um grupo de membros da CTNBio
(Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) fez coro nesses ataques, inclusive
assinando um documento internacional de críticas ao estudo.
As críticas foram todas
respondidas pela equipe de Séralini, uma a uma. Mas uma coisa muito
interessante a se destacar é que as supostas falhas apontadas no estudo francês
não foram questionadas nos estudos apresentados pelas empresas de biotecnologia
e que embasaram a liberação comercial de variedades transgênicas. Um exemplo: a
linhagem de ratos de laboratório utilizada pelo estudo de Séralini é exatamente
a mesma que foi utilizada no experimento que embasou sua liberação comercial.
Quanto a isso, nenhuma crítica. Ou ainda: nenhum estudo que permitiu a
autorização dos transgênicos tinha mais de 10 ratos medidos por grupo – número
utilizado no estudo de Séralini. Isso sem considerar que no recente estudo
francês os ratos foram monitorados ao longo de dois anos, isto é, todo o seu
tempo de vida, enquanto o estudo que levou à autorização do milho NK 603 foi
conduzido ao longo de apenas 13 semanas.
Mas o posicionamento visivelmente
tendencioso de membros da CTNBio não para por aí. Em 21 de outubro de 2012 o
Ministério das Relações Exteriores (MRE) solicitou à CTNBio informações acerca
do estudo de Séralini. O pedido não foi levado ao conjunto dos membros da
Comissão e, 3 dias depois, seu presidente direcionou um parecer ao MRE,
informando que para responder à demanda do ministério ele havia indicado “em
caráter de urgência uma comissão extraordinária”. O documento, assinado por
quatro pesquisadores, repete as críticas já rebatidas por Séralini.
O parecer, que estava pronto
antes mesmo do pedido do MRE, havia sido colocado na pauta da reunião de 18 de
outubro passado, mas a discussão fora adiada para a reunião seguinte do órgão,
que seria realizada em novembro. O item, contudo, não entrou na pauta dessa
reunião e o tal parecer passou a ser referido como justificativa para que a
liberação do milho NK603 não fosse reavaliado pela CTNBio.
Agora, integrantes e ex-membros
da Comissão prepararam um documento apresentando uma outra visão acerca da
pesquisa sobre o milho NK 603. O documento foi apresentado à CTNBio na reunião
ordinária de fevereiro de 2013, mas o presidente Flavio Finardi não o recebeu,
indicando que fosse protocolado na secretaria do ministério para posterior
encaminhamento ao Itamaraty.
Em face de tamanha falta de
consenso e da gravidade das novas descobertas é de se esperar – e cobrar – da
CTNBio que abra um processo de reavaliação dos produtos transgênicos já
liberados à luz de novas evidências científicas, a começar pelo milho NK603.
Fonte: site MST
Nenhum comentário:
Postar um comentário