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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Guerra é o que não falta!


                                    Pepe Escobar, Asia Times Online

O chefe do Pentágono Leon Panetta disse à rede ABC News que os EUA estão “prontos” para atacar o Irã. Depende só de o presidente Barack Obama dar a ordem. Dará? Não dará?

Obama, laureado com o Prêmio Nobel e Pai dos Drones, anda ocupado “justificando a  teoria da ‘justa guerra’ dos filósofos cristãos”, na expressão precisa de Ray McGovern – e como o comprova o New York Times, a promover em ritmo orgásmico o artigo “Lista secreta de ‘alvos de assassinatos’ é teste para os princípios e a força de vontade de Obama”[1].

Aparentemente, ainda não existe lista de iranianos selecionados como ‘alvos de assassinatos’ – exceto os cientistas que estão sendo dizimados pela ruinosa combinação de agentes do Mossad israelense com os fanáticos terroristas iranianos do MEK (Mujahedin-e Khalq, MEK, “Mujahedin do Povo”). Nada – até agora – confirma que Obama considere que atacar o Irã seria “guerra justa”. Ao contrário: Obama pode bem amarrar um acordo nuclear com o Irã, como grande vitória de política exterior, na trilha da re-eleição. Mas – pelo sim, pelo não, por que não? – o Pentágono trata de manter alta pressão sobre Obama.

Enriqueça, e você será varrido do mapa...

Panetta regurgitou a mesma velha falácia, perpetrada ao infinito desde pelo menos 2006 pelos neoconservadores, o lobby israelense e a mídia-empresa norte-americana, segundo os quais o Irã estaria a ponto de ter uma bomba atômica... amanhã. “Faremos todo o possível para impedir que o Irã desenvolva a bomba” – disse Panetta. Mais uma vez, não importa que a Agência Internacional de Energia Atômica, supervisora da ONU para questões nucleares, mais 17 agências de inteligência dos EUA, tenham dito que não, nada disso, não é o caso.

O movimento de Panetta deve ser visto como bombardeio preventivo, pelo Pentágono, contra as conversas do Grupo P5+1 sobre o programa nuclear iraniano – que têm marcada uma terceira rodada, em Moscou, dia 18/6. Como Gareth Porter demonstrou, não haverá acordo algum, enquanto Washington insistir em pôr abaixo todo o Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual o Irá é signatário (Ver “US hard line in Iran talks driven by Israel” [A linha dura dos EUA nas conversações do Irã é comandada por Israel], Asia Times Online, 29/5/2012[2]). A posição dos EUA resume-se a ‘proibir’ o Irã de, inclusive, enriquecer urânio para finalidades civis.

Panetta insiste também em que a “comunidade internacional tem posição unificada” sobre o caso. É perfeito nonsense. Não só o grupo dos BRICS de potências emergentes, mas também todo o Movimento dos Não Alinhados [Non-Aligned Movement (NAM)], já declararam e insistem que o Irã tem pleno direito, como todos os demais signatários do TNP, de manter seu programa nuclear civil.

Agora, quanto à posição dos iranianos. Fereydoon Abbasi, chefe do programa nuclear iraniano, disse que “Não temos qualquer razão para não produzir urânio a 20%, porque precisamos desse urânio para atender nossas necessidades”, segundo a televisão estatal iraniana.

E não só isso. O Irã começará a construir duas novas usinas nucleares em 2013, e seu único reator nuclear ativo já se aproxima dos níveis máximos de produção.


Nos termos do Tratado de Não Proliferação, qualquer estado-membro com programa nuclear civil consistente pode também alcançar capacidade para construir armas nucleares – à qual o Tratado refere-se como uma “opção nuclear”. O Japão, o Brasil e a Argentina, por exemplo, todos países signatários do Tratado de Não Proliferação, mantiveram abertas a respectiva “opção nuclear” durante décadas. Todos poderiam desviar-se do compromisso básico do tratado e construir uma bomba nuclear, se assim desejassem, em alguns meses. Não quiseram. Só que Washington, em missão delegada por Deus Todo Poderoso, insiste que o Irã quererá e fa-la-á (a bomba).

O fato é que Teerã não está fazendo coisa alguma que seja remotamente ilegal, em sua busca para adquirir tecnologia nuclear. O Irã concordou com discutir, em Bagdá, a suspensão do enriquecimento a 20%.

Mas então, em Bagdá, os negociadores iranianos descobriram que, para os EUA, a linha vermelha – nenhum urânio enriquecido – é absoluta e inarredável. No máximo, o Irã poderia esperar receber, em troca de seu urânio, suprimento de isótopos para finalidades médicas.

Assim sendo, Teerã não arredará pé da posição inicial: só aceitará suspender o programa de enriquecimento de urânio a 20%, se os EUA reconsiderarem o duríssimo embargo ocidental ao petróleo plus a guerra financeira que declararam ao Irã com as sanções.

Por falar nisso, o presidente do Banco Central Iraniano Mahmoud Bahmani disse que Teerã já ativou uma via alternativa para pagamentos através da Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT) – derrubando mais uma das linhas do incansável ataque econômico que Washington empreende contra o Irã. Significa que Irã, Rússia, China e Índia (dos BRICS), mais os parceiros comerciais do Irã no mundo em desenvolvimento, já deram mais um passo na direção de afastarem-se definitivamente do dólar norte-americano como moeda global de reserva.

Sancione-me mais, baby, mais, mais...

Mesmo na – remota – possibilidade de que a liderança em Teerã decida de repente por fim a todo o enriquecimento de urânio e matar no ovo todo o programa nuclear do país, ainda assim o Irã continuará sob ataque das sanções dos EUA. De fato, as sanções nada têm a ver com o programa nuclear iraniano. Trata-se, isso sim, de ‘mudança de regime’.

Por 401/11, o Congresso dos EUA aprovou, na última 6ª-feira, uma resolução que vai ainda além das sanções “incapacitantes”.

As sanções impostas pelos EUA ao Irã lá ficarão para sempre, até que o presidente Obama declare e comprove, ante um Congresso cada dia mais (muito) impopular (14% de aprovação popular), que “o Irã libertou todos os presos e detentos políticos; que pôs fim a todas as práticas de violência e abuso contra cidadãos iranianos engajados em oposição política pacífica; determine investigação transparente dos assassinatos e abusos contra ativistas políticos pacíficos no Irã e processem os responsáveis; e avance firmemente na direção de estabelecer judiciário independente”.

E há mais. Obama também terá de provar ao Congresso que “O governo do Irã deixou de apoiar atos de terrorismo internacional e não corresponde à definição de estado patrocinador de terroristas; e [que] o Irã abandonou completamente a procura, aquisição e desenvolvimento de armas nucleares, biológicas, químicas e balísticas.”[3]

Nesse emaranhado de ideias delirantes, ainda entra em cena o Comandante do Estado-Maior das Forças dos EUA, Martin Dempsey. Disse à CNN na 2ª-feira que “a opção militar deve ser considerada”. EPA! Mas... Aí já é aquela outra guerra que está sendo preparada – na Síria. O general Dempsey disse que prefere que a “comunidade internacional” promova a mudança de regime na Síria, mas... caso seja necessário, numa emergência... O Pentágono está pronto a entrar em ação (“Evidentemente, sempre temos de garantir que haja opções militares.") A turma do CCGOTAN mal consegue refrear os zurros de alegria.

Quer dizer: Coméquié, Barack? Tantas guerras a escolher... E tão pouco tempo até a re-eleição!

http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NE31Ak03.html



[1] 29/5/2012, NYT, http://www.nytimes.com/2012/05/29/world/obamas-leadership-in-war-on-al-qaeda.html?pagewanted=all, “Secret ‘Kill List’ Proves a Test of Obama’s Principles and Will”, 3º artigo da série A Measure of Change [Uma avaliação da mudança].

[2] Em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NE30Ak02.html

[3] O texto integral do projeto, agora convertido em lei, pode ser lido em http://thomas.loc.gov/cgi-bin/bdquery/z?d111:HR02194:@@@D&summ2=m&, “sec. 105” [NTs].

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