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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Caribe dividido em torno das Ilhas Malvinas.



St. Georges, Granada – Trinta anos depois que Grã-Bretanha e Argentina protagonizaram uma guerra pelas Ilhas Malvinas, as tensões ressurgem. Entretanto, ao contrário de 1982, desta vez o principal ponto de controvérsia se encontra no petróleo, afirmam legisladores desse disputado território. Quatro empresas britânicas anunciaram planos de busca por petróleo em torno das Malvinas, que ficam a 480 quilômetros da costa continental argentina. Estas empresas suspeitam que sob este arquipélago do sul do Oceano Atlântico existem reservas de óleo que mais do que triplicam as da Grã-Bretanha.

As Ilhas Malvinas, ocupadas pelos britânicos desde 1833, foram invadidas militarmente em 2 de abril de 1982 por decisão do último governo da ditadura argentina (1976-1983), país que reclama historicamente soberania sobre o arquipélago. A guerra durou até 10 de junho, quando as forças da Argentina se renderam diante do poderio bélico e tecnológico das tropas da Grã-Bretanha. “Tristemente, neste momento a Argentina torna a vida muito difícil, provavelmente porque estamos explorando em busca de petróleo em águas em volta das ilhas”, disse Roger Edwards, presidente da Assembleia Legislativa das Falkland Islands, segundo a denominação britânica. Edwards, que esteve em Granada no começo de uma visita a várias ilhas do Caribe de língua inglesa, declarou à IPS que a Argentina “praticamente submete as ilhas a um bloqueio econômico. Ameaçam interceptar navios que comercializam com as Ilhas”.


Edwards acrescentou que Buenos Aires também procura fazer com que cada vez mais países se alinhem com sua posição, para ampliar a proibição de entrada em portos da região dos navios com bandeira das Falklands Islands. Seu  comentário se refere à decisão nesse sentido adotada em dezembro pelo Mercosul, integrado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, e a Venezuela em processo de adesão plena.

Entretanto, a cúpula da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), o bloco de países latino-americanos e caribenhos impulsionado pela Venezuela, reafirmaram, na semana passada, em Caracas seu compromisso de respaldar a Argentina em qualquer conflito relacionado a suas reclamadas Ilhas Malvinas. O ministro argentino de Relações Exteriores, Héctor Timerman, que foi convidado para a cúpula da Alba, afirmou que Grã-Bretanha estava distante neste assunto. “Hoje em Caracas, é evidente que, por causa das Malvinas, a América Latina e o Caribe se uniu”, declarou. “A Argentina não está sozinha nisto. Na realidade, é a Grã-Bretanha que está sozinha”, acrescentou.

A presidente da Argentina, Cristina Fernández, informou que apresentará uma demanda perante o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) contra a “militarização” que a Grã-Bretanha promove nas águas que rodeiam as Malvinas. Esta semana, Fernández convocou seu gabinete ministerial e representantes da oposição política, de sindicatos e de outras variadas organizações sociais, para um ato no qual assinalou que a reclamação pelas Malvinas é um assunto regional e mundial, porque a Grã-Bretanha está militarizando uma vez mais o Atlântico sul.

Edwards e sua delegação chegaram a Santa Lucía para uma reunião com o primeiro-ministro Kenny Anthony, no dia 7. Edwards declarou que os habitantes das ilhas estão muito otimistas com relação ao seu futuro socioeconômico, insistindo em que isto não depende nem da Grã-Bretanha, nem da Argentina. “Eles (a Argentina) estão difundindo mitos e mentiras, e por isto decidimos que, como povo, viríamos e contaríamos a história pessoalmente”, discursou. “Somos um povo insular cujos desejos deveriam ser primordiais. Queremos determinar nosso próprio futuro”, afirmou.

“No âmbito interno, as empresas são prósperas e muito positivas. Investem no futuro e fazem tudo que podem para melhorar a economia e o modo de vida da população das Falklands”, continuou Edwards. Também afirmou que “a Argentina quer dominá-los e colonizá-los. Não cremos que isso seja certo, mas tampouco queremos que a Grã-Bretanha determine nosso futuro. Realmente queremos nós mesmos determinar nosso futuro”, ressaltou.

No entanto, Edwards não conseguiu todo apoio em sua viagem. Além de Granada, onde a delegação foi “bem recebida”, segundo disse, no restante da região caribenha de língua inglesa há dúvidas e posições ambivalentes. Santa Lucía, por exemplo, à qual foi concedido o status de “membro especial” da Alba, apoia o direito dos malvinenses à sua autodeterminação desde 1985, três anos após o fim do conflito entre Argentina e Grã-Bretanha. Porém, esse apoio fica sob exame enquanto esta ilha se prepara para integrar a Alba. San Vicente e Granadinas, que é membro pleno da Alba, já disse que seu apoio a uma resolução do bloco de proibir a entrada em seus portos de barcos com bandeira das Falkland Islands é “simbólico”.

Ao regressar de Caracas, o primeiro-ministro da ilha, Ralph Gonsalves, disse no dia 8 aos jornalistas que a cúpula da Alba agregou apenas um parágrafo a uma resolução adotada em dezembro pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Recordou que a Celac havia dito que “apoiava a causa dos argentinos em princípio, mas que mais particularmente pedia que o assunto se resolvesse dentro do contexto do debate que acontece sobre a soberania destas ilhas mediante os mecanismos da ONU”.

“E isso é basicamente o que se reformula com esta declaração: a adição real foi o parágrafo que diz “apoiar a decisão dos países da região de proibir que embarcações com a bandeira colonial imposta às Malvinas entrem em seus portos”, acrescentou, lembrando que este gesto é “simbólico”, pois em San Vicente e Granadinas não chegam navios das Malvinas. O governo de Antiga e Barbuda também manifestou que apoiaria “uma solução pacífica e definitiva” para a disputa, e se afastou de todo bloqueio de navios procedentes do arquipélago das Malvinas.

 Fonte:   Envolverde/IPS - Peter Richards, da IPS

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