Venezuela - Bruno Carvalho- Esta tarde, o deputado venezuelano Robert
Serra, eleito pela zona de Caracas que inclui o bairro 23 de Enero, baluarte da
revolução bolivariana, ia participar numa conferência consignada ao tema
«Fascismo, vanguarda extrema da burguesia».
Mas já não vai.
Caiu assassinado mais a sua
companheira na noite passada. Para lá da especulação, há boas razões para
suspeitar do imperialismo, essa mão invisível que se abate sobre os povos mas
que só se confirma décadas depois quando se desclassificam documentos.
Um desses guerrilheiros que se
levantou em armas durante décadas contra a oligarquia venezuelana confessava-me
há dias que já havia tropeçado em gente que duvidava da intervenção
imperialista no país de Bolívar e Chávez. Suponho que a ingenuidade floresça através
da sementeira ideológica que impõem os meios de comunicação para ofuscar a
realidade. A contra-revolução em Portugal não começou a 11 de Março ou a 25 de
Novembro. Desde o primeiro dia, as potências capitalistas distribuíram armas,
deram preparação militar, montaram uma ampla rede mediática, deram assessoria
política e investiram milhões em organizações e partidos que sendo de direita
eram obrigados a dizer-se de esquerda. Não é novidade e tudo isso era
amplamente denunciado pelos comunistas e aliados durante o processo
revolucionário. Contudo, tudo o que hoje se pode confirmar através de
documentos dos próprios pontas-de-lança do imperialismo - que antes eram
confidenciais e que, entretanto, foram tornados públicos - comprova aquilo que
para alguns era tão pouco credível.
021014 Robert-SerraHoje, décadas
depois, os vencedores atrevem-se a admitir aquilo que sempre negaram. No
entardecer da vida, recordam com nostalgia os tempos em que financiavam o PS e
o PSD e explicam sem inibições que a estratégia era vencer os comunistas
defendendo princípios de esquerda para solidificar o poder para mais tarde
entregar o país de bandeja à Europa capitalista. E assim foi. Apesar de terem
tardado quase quatro décadas de resistência e luta dos trabalhadores, não há sinais
da Reforma Agrária e a grande indústria depois de privatizada foi desmantelada.
Os serviços públicos jazem nas mãos de privados e os que ainda sobram esperam a
sua vez na fila.
Na luta de classes, o capitalismo
investe na distração. Enquanto inventa novas mascotes terroristas para
justificar a invasão e a pilhagem, o imperialismo usa toda a parafernália
mediática para semear o medo. O oligarca ordena, o jornalista aponta e por
todas as partes é o sangue dos trabalhadores que jorra. Nesta farsa em que vivemos,
permanentemente bombardeados por informação falsa, escolher entre a verdade e a
mentira afigura-se uma árdua tarefa que exige um esforço hercúleo. É por isso
que a batalha da comunicação é fulcral. E na Venezuela, onde o petróleo está
nas mãos do Estado, onde o poder dos media foi desafiado e onde as conquistas
sociais avançaram décadas em poucos anos, o imperialismo caminha com a sua mão
silenciosa mas sangrenta.
Assistimos, hoje, a várias
frentes abertas pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Na Líbia, na Síria,
no Iraque, no Curdistão, na Ucrânia, na Venezuela e na China, o imperialismo
desdobra-se em intervenções indiretas utilizando métodos que não sendo novos
surpreendem pela simultaneidade. Há que denunciá-lo. O imperialismo também usa
silenciador: todas as suas ferramentas de comunicação. A crise do capitalismo e
a existência de novas realidades geopolíticas que desafiam o imperialismo
torna-o agressivo. Só a unidade dos trabalhadores e dos povos, a sua luta e
resistência, poderá frenar esta ofensiva que pode desembocar numa guerra mais
alargada pondo, inclusive, em risco a própria humanidade. É esse o repto:
acabar com o capitalismo antes que ele acabe conosco.
Fonte: Diario Liberdade
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