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Militantes da opositora e fascista ucraniana Svoboda.
Ucrânia - Tahrir-ICN - A seguir
foram traduzidos por Carlos Serrano Ferreira os trechos de uma entrevista sobre
a situação ucraniana. Foram cortados pela extensão outros pontos da mesma que
não remetem para a informação dos processos em Kiev. Aos interessados na
leitura da transcrição completa, numa versão em inglês, pode acessar na página
de Tahrir-ICN.
Na Rádio Asheville FM, baseada no
oeste da Carolina do Norte, foi ao ar uma fascinante entrevista com um
anarcossindicalista ucraniano chamado Denys, da União do Trabalhador Autônomo.
Na entrevista, Denys desmascara muitos dos mitos que cercam os protestos do
Euromaidan na Ucrânia, e explica os motivos por trás das estórias e da
propaganda que estão circulando em torno dos protestos.
Por que o Acordo de Livre
Associação com a UE (que beneficiaria, sobretudo, os ultrarricos oligarcas da
Ucrânia) deliberadamente está sendo interpretado como uma integração real? Os
líderes ucranianos recuaram da assinatura no último minuto. Enquanto isso, a
Rússia está tentando atrair a Ucrânia para sua União Aduaneira oferecendo à
Kiev um acordo para uma compra prometida de bilhões de euros de produtos
ucranianos e um desconto de 30% do preço do gás natural russo.
Denys explica que quando os
protestos começaram a classe política da Ucrânia foi pega de surpresa. No
entanto, a oposição, uma coalizão com inclinações para a extrema-direita (com o
fascista Svoboda sendo o mais visível de todos eles) rapidamente se reagrupou e
transformou a rua em sua máquina de relações públicas. A oposição tinha em seus
planos mobilizações massivas, como o líder do fascista. Svoboda declarou numa entrevista
em março de 2013. Evidências surgiram de que os líderes da oposição planejam
derrubar o atual governo com o apoio financeiro e político da conservadora
alemã Angela Merkel , dos líderes de Bruxelas da União Europeia, e com o apoio
visível dos Estados Unidos, cujo seu enviado, o conservador John McCain foi a
estrela convidada do Euromaidan .
Dois meses depois que começaram,
os protestos do Euromaidan principiam a diminuir, apesar de serem fortemente
incentivados pelas elites políticas conservadoras e governos da Europa e dos
Estados Unidos. Estes protestos foram controlados pelos políticos que tomaram a
prefeitura de Kiev [... onde podem ser vistas a neonazista cruz cristã do
orgulho branco, orgulhosamente exibida pela oposição em seu "Quartel-General
Revolucionário", a Câmara Municipal de Kiev, que ocuparam no início de
Dezembro.
É difícil dizer quem está mais
desesperado – o governo ou a oposição, mas esta anunciou que iria se concentrar
nas próximas eleições presidenciais, previstas para daqui 18 meses, embora não
seja muito claro que candidato irão apoiar. O "Pátria", bem como o
governante Partido das Regiões, do atual presidente Viktor Yanukovych, procuram
esfaquear pelas costas à Vitali Klitschko, provavelmente para abrir espaço para
o seu homem, Arseniy Yatseniuk, ou para o líder do Svoboda (Liberdade), Oleh
Tyahnybok (ou talvez para Tymoshenko, por cuja libertação da prisão o Ocidente
faz enormes pressões).
Klitschko, já promovido pelos
líderes conservadores da Europa como seu favorito, anunciou um mês antes do
Euromaidan que irá disputar as eleições presidenciais de março 2015.
No entanto, o líder do Svoboda
(Liberdade) expôs seus planos para assumir Kiev numa entrevista em março 2013.
Um mês após esta ocorreram protestos de rua que não conseguiram exigir eleições
antecipadas para prefeito de Kiev, o que teria levado à expulsão de um dos
aliados do presidente Viktor Yanukovich de um poderoso posto.
Sete meses mais tarde a oposição
usou os protestos de rua contra o governo para ganhar o oder na Ucrânia. Os
resultados têm sido muito proveitosos para o partido Svoboda (Liberdade). No
dia 1 º de janeiro, o Svoboda liderou uma marcha de mais de 15.000
nacionalistas para comemorar o aniversário do colaborador nazista morto Stepan
Bandera.
Klitschko tentou desassociar o
Euromaidan da marcha de Bandera, mas isso carece de significado, pois ele se
aliou à Tyagnybok e demonstrou a sua vontade de colaborar com o Svoboda. Muitos
participantes do Euromaidan expressaram sua desaprovação em relação à marcha de
Bandera, mas muitas das mesmas pessoas expressaram seu desejo de não dividir os
protestos, o que significa que continuarão de boa vontade a colaborar com os
nazistas. Isto permitiu essencialmente ao Svoboda estabelecer a hegemonia entre
os participantes do Euromaidan, bem como na capital.
Nesta entrevista, Denys explica
quais são os fatos reais e como eles são refletidos num labirinto de espelhos
deformados, o qual se deve remover do caminho para se compreender a realidade
da vida na Ucrânia, um país onde "as pessoas estão indispostas com o
Estado, com o Ministério, com o Tribunal, com os Oligarcas, com os Canalhas e
um Parlamento que não presta contas, com todos de uma vez, com as mesmas
personalidades de sempre".
A transcrição da entrevista com
Denys foi ligeiramente editada a partir da linguagem falada para uma forma
escrita, para maior clareza. Você também pode ouvi-la clicando aqui.
Denys: É necessário distinguir
entre dois Euromaidans. O primeiro, que ocorreu em 21 de novembro, onde
participaram pessoas de classe média que, em sua maioria, queriam a assinatura
desse acordo com a União Europeia. No entanto, hoje, dois meses depois, a
maioria das pessoas nas ruas está preocupada com questões bem mais práticas,
como a brutalidade da polícia, que foi exibida na noite de 1º de dezembro e,
geralmente, não estão felizes com o governo e com o presidente. Assim, a
integração europeia continua a ser uma questão mais ampla, mas hoje está em
segundo lugar.
Quanto aos protestos pró-governo
estão em causa: as pessoas que participaram deles foram levadas pelo governo em
ônibus para Kiev para o fim de semana. Estes protestos não foram honestos.
Muitas pessoas que trabalham para o governo, como professores, médicos e assim
por diante, foram informados por seus chefes que eles têm de fazê-lo. Então,
era como obrigatório para eles. Eu não diria que isso era um protesto real.
Mas, em relação às pessoas que apoiam a União com a Rússia, Bielorrússia e
Cazaquistão, sim, existe essa opinião e, como um todo, o país está dividido
mais ou menos metade à metade em relação à integração na União Europeia ou à
União Aduaneira.
O problema é que a segunda
posição não é muito representada nos meios de comunicação de massa, que se
inclinam para o outro sentido (pró-UE). E, geralmente, essas pessoas que apoiam
a União Aduaneira não têm o hábito de protestar. Elas vivem em cidades menores
e, portanto, não são representados na mídia tanto quanto aqueles que vivem na
capital.
Também os partidários da União
Aduaneira têm líderes políticos muito estúpidos. Por exemplo, a principal força
política que organizou esses protestos em favor da União Aduaneira, teve como
seu principal ponto de propaganda anti-UE a alegação de que a esta trará o
casamento entre as pessoas do mesmo sexo e as coisas não tradicionais que,
supostamente, não seriam bem acolhidas pela população ucraniana. Eles até
inventaram o termo "euro-sodoma", como em Sodoma e Gomorra.
E a outra força política que
apoia a União Aduaneira é o Partido Comunista da Ucrânia, que por muitos anos
não tem nada que ver com o comunismo, o seu programa político e sua agenda
podem ser melhor descritos como conservadores, como um partido social conservador.
Se você o comparasse com a Marie Le Pen, você não iria encontrar muita
diferença entre eles.
Rádio Asheville FM: Há em suas
palavras e em seu imaginário uma espécie de clamor pelo retorno para a era
soviética e por tornar a se juntar com os outros países do Leste Europeu?
Denys: Sim, é claro que eles
especulam sobre isso, porque os laços entre as pessoas comuns ainda são muito
fortes. Você sabe, muitas pessoas têm parentes na Rússia, para não mencionar as
coisas, uma comum cultura de massa. Muitas pessoas veem os canais de televisão
russos, o que é muito normal na vida das pessoas comuns em regiões do leste, do
sul e central.
As pessoas na região do centro e
do sul têm muitas coisas em comum com os russos, em seu estilo de vida, e eles
não sentem que são iguais ao povo europeu.
Mas, ao mesmo tempo, uma grande
parte da população ucraniana vive agora no exterior, na União Europeia,
especialmente na Espanha, Itália, Polônia, República Checa e Portugal.
Principalmente pessoas das regiões ocidentais, mas não exclusivamente.
Rádio Asheville FM: Entre os
partidários versus os detratores da inclusão na UE eu posso ver uma divisão de
acordo com as normas sociais, como você mencionou, então as pessoas que talvez
sejam mais liberais socialmente inclinam-se talvez para o Ocidente, com as suas
mais progressistas leis e casamentos gays, e do outro lado, na direita, há uma
orientação mais conservadora, mais ortodoxa – uma igreja ortodoxa diferente da
ortodoxa russa – tenho certeza de que, dependendo de onde você está no país ou
em que setor econômico você se insere, você vai fazer mais negócios em geral
com o Oriente ou com o Ocidente. Mas, você diria que as duas posições são
basicamente mais voltadas para a liberalização da economia e o enfraquecimento
dos direitos dos trabalhadores na Ucrânia, ou é uma espécie de vínculo falso
para os trabalhadores na Ucrânia?
Denys: Primeiro de tudo, você
falou sobre a prevalência de um liberalismo social entre os ucranianos pró-UE.
Eu realmente não concordo com isso. Existe essa impressão porque os protestos
pró-UE são dirigidos por pessoas educadas de classe média que têm um tipo de
agenda mais social liberal.
Mas ainda assim é mais como uma
cultura de direita versus uma cultura de direita.
Assim, por exemplo, regularmente as
pessoas no Euromaidan rezam juntas publicamente , todos juntos. Então,
novamente, sobre a questão do casamento gay : a maioria das pessoas que
defendem a integração à UE nunca aceitariam isto.
De fato as questões sociais
relativas aos direitos dos trabalhadores não estão absolutamente na agenda. A
classe operária, como classe, não participa de maneira nenhuma nestes eventos.
Os trabalhadores naturalmente tomam partido, mas eles não são organizados em
entidades de classe, como, em sindicatos, como tal, eles simplesmente não
participam nestes eventos. E eles têm boas razões para isso, porque ambos os
lados apenas tratam de questões culturais, políticas, que não têm qualquer
ligação direta com as necessidades de um trabalhador médio.
Os manifestantes que apoiam a UE
tem uma visão totalmente falsa sobre a Europa como um paraíso onde tudo está
bem, tudo está muito melhor do que na Ucrânia ou que em qualquer outro lugar. É
inútil dizer-lhes sobre os protestos no seio da UE e sobre os programas de
austeridade. Eles simplesmente não ouvem e dizem: "Ah, então você acha
melhor se juntar à Rússia, não é!"
Portanto, esta falsa escolha é
avassaladora, e eu acho que o mesmo poderia ser dito sobre o lado oposto. A
agenda esquerdista, a agenda dos direitos dos trabalhadores, não está presente
em qualquer destas praças onde as pessoas protestam.
Rádio Asheville FM: Isso deve ser
uma posição bastante frustrante. Tudo bem, eu acho como um anarquista que isto
pode abrir todos os tipos de possibilidades e questões, quando eles dizem:
"Bem, você deve ser pró-Rússia, se você é contra isso", pode-se
dizer: "Bem, na verdade, há outro caminho". Achas que isto permite um
monte de conversas?
Denys: "Não. As pessoas
estão muito sobressaltadas, estão muito nervosas. Hoje e talvez em todos os
outros dias da última semana, você poderia estar em perigo real, se você
começar a dizer algo assim, porque você seria imediatamente considerado um
provocador do partido no poder. Na verdade, houve um par desses incidentes no
Euromaidan, quando pessoas de diferentes grupos de esquerda estavam tentando
fazer exatamente o que você está dizendo, e alguns deles foram espancados muito
severamente, outros foram apenas expulsos. Isso ocorre porque as pessoas comuns
mostram algum interesse, às vezes, mas o outro problema é que entre os
ativistas no Euromaidan, entre a segurança e os responsáveis locais (os
organizadores dos protestos), entre os que fazem as coisas, há forte
infiltração pelos grupos de extrema-direita que realmente têm suas próprias
coisas para dizer para a esquerda. E eles têm a confiança do das pessoas
comuns, dos políticos, por isso, se algum nazista novo que conhecemos diz:
"Oh, meu Deus, olha, estes são os comunistas, estes são provocadores, eu
acho que eles apenas apoiam Yanukovych", ninguém mais ouvirá você. Você
seria expulso.
Esta é a histeria em massa na
qual eu acho que não é possível fazer muita agitação, mas acho que no próximo
ano teremos muito mais possibilidades, porque, dado o estado terrível das
finanças públicas da Ucrânia, eu acho que durante nos próximos dois meses os
protestos poderiam ser transformados em algo mais próximo de uma agenda social
e econômica.
Rádio Asheville FM: Esperamos que
sim. Você pode falar um pouco mais sobre o sistema político da Ucrânia? Que
espécie de partidos devem nossos ouvintes conhecer para obter uma compreensão
básica sobre a dinâmica e quais as posições existentes na Ucrânia sobre a
adesão à UE ou à União Aduaneira?
Denys: A política parlamentar
ucraniana consiste basicamente em dois grandes partidos políticos. Estes têm
agendas sociais, políticas e econômicas bastante idênticas. Ambos podem ser
descritos como populistas de centro-direita. Um partido é o Partido das
Regiões, que é o partido no poder, e do qual o presidente Yanukovych é o chefe,
e o governo é composto pelos membros desse partido. A oposição é composta por
um bloco de três partidos da oposição parlamentar, que são basicamente o mesmo,
a única diferença é que eles falam ucraniano. Estes partidos de oposição têm
sua base eleitoral nas regiões central e ocidental da Ucrânia, enquanto o
Partido das Regiões possui sua base mais entre os que falam russo. Estes
especulam sobre essas diferenças culturais, uma vez que os seus eleitores vivem
nas regiões sul e leste. Estes partidos reúnem talvez 60% dos votos. Também há
o partido "comunista" da Ucrânia, sobre o qual eu já falei. E, um dos
partidos dessa chamada Oposição Nacional Democrática é o Svoboda, que é
traduzido como "liberdade", mas na verdade é um partido de
extrema-direita, idêntico aos outros atuais partidos populistas de
extrema-direita em outros países europeus. A maioria dos partidos políticos que
descrevi apoia a integração na União Europeia, incluindo a maioria dos
empresários que apoiam o Partido das Regiões do presidente Yanukovych.
Na verdade, ao longo deste ano, surgiu
uma oposição baseada em fundamentos conservadores pró-russos, dentro do Partido
das Regiões, mas foi severamente reprimida. O pretenso líder desta oposição, um
membro do parlamento, foi expulso do Parlamento sob a justificativa de que ele
teria manipulado as eleições no seu círculo eleitoral.
Até o final de novembro tudo
apontava que a Ucrânia iria assinar o Acordo de Associação com a UE, porque
todo mundo estava interessado nisso.
Então as coisas mudaram
rapidamente, tanto quanto podemos entender, quando o presidente e o
primeiro-ministro olharam para os números e eles perceberam que não poderiam
fazer isso, porque o comércio é com a Rússia e pela situação das finanças
públicas – que não tem dinheiro, e que o orçamento está quase vazio e não poderíamos
arcar com os prejuízos que seriam provocados pelo referido Acordo de
Associação. É óbvio que ninguém leu esse acordo integralmente (até naquele
momento), pois (até o momento em que se recuou), o primeiro-ministro e o
presidente foram os principais euro-otimistas no país.
Durante a noite eles se tornaram
os principais eurocéticos.
Rádio Asheville FM: Era o plano
de reestruturação do Fundo Monetário Internacional parte na entrada na União
Europeia, ou era uma coisa separada que de repente surgiu quase ao mesmo tempo
para o partido de Yanukovych?
Denys: Estas são duas coisas
separadas, que estão unidas pelo fato de que o governo ucraniano precisa
desesperadamente de dinheiro. Então, eles decidiram pressionar a União Europeia
para que ajudassem a Ucrânia a negociar melhores condições de obtenção num
empréstimo junto ao FMI.
Isso ocorre porque o FMI exige as
mesmas medidas que como costuma fazer a muitos países. Eles impõem condições
muito duras, tais como o aumento do preço do gás para a população e a desvalorização
da moeda nacional. E o governo se recusou a fazer isso nos últimos anos, e isso
seria certamente um suicídio político para qualquer político que tentasse fazer
isso agora, quando estamos a apenas um ano das eleições presidenciais.
Rádio Asheville FM: Pelo que
entendi o FMI exige um aumento de 40% do preço do gás natural em um país que é
muito frio, certo?
Denys: Sim.
Rádio Asheville FM: Isso parece
um suicídio político. Eu posso ver isso, com certeza.
Denys: Hoje, a principal força
política no panorama da extrema direita na Ucrânia é, inegavelmente, o Svoboda.
Se eu tivesse que apresentar alguma comparação, eu os compararia com os outros
atuais partidos de extrema direita do leste europeu, como o partido húngaro
Jobbik, com o qual eu penso que os ouvintes americanos podem estar cientes.
Houve um grande escândalo quando um par de anos atrás eles receberam muitos
votos na Hungria. Svoboda é praticamente a mesma coisa, é um partido político
que tem seu próprio projeto de uma chamada "constituição nacional",
que traria muitas coisas horríveis, como a pena de morte para o que chamam de
"atividades anti-ucranianas", sem definições do que seriam essas
"atividades". Basicamente, qualquer coisa contrária ao espírito desse
partido poderia ser considerado "anti-ucraniano".
Hoje, no Euromaidan, eles estão
conclamando a uma greve política, mas, na verdade, o que a maioria das pessoas
simplesmente não percebe é que no projeto do Svoboda de nova constituição a
greve política seria uma ofensa criminal.
Rádio Asheville FM: É um estado
de exceção para eles, eu tenho certeza.
Denys: Sim. O paradoxo é que eles
se tornaram extremamente populares entre a classe média liberal educada das
áreas urbanas, especialmente em Kiev. Então, hoje Kiev vota Svoboda, como as
regiões ocidentais da Ucrânia fazem, porque eles apenas dizem: "Bem, eu
não sei qual é o seu programa. Eu não li nada sobre isso, mas eles parecem tão
duros, eles são caras legais, e eu tenho certeza que ao menos eles iriam
quebrar os pescoços dos corruptos que estão agora no partido governante".
Isto é, naturalmente, uma grande
reminiscência das situações históricas em outros países no século 21.
Eu não quero parecer demasiado em
pânico, mas há algumas características semelhantes, porque as pessoas burguesas
da classe média não veem nada de errado com isto. E, até certo ponto, eles
estão certos, porque, se a extrema-direita ganha todo o país, essas pessoas não
sentiriam grandes dificuldades em sua vida. As principais dificuldades seriam
para a extrema esquerda, contra todos os partidos de esquerda e movimentos , e
para as minorias étnicas e para as minorias raciais.
Mas as pessoas normais não
sentiriam nada, pelo menos por algum tempo, e esse é o problema.
Igualmente outro fato
interessante sobre o Svoboda: eles passaram por uma mudança de marca e agora
eles se chamam "liberdade". Esta é uma palavra genérica para a
direita europeia, mas até 2005 ou 2004, eles se chamavam Partido Nacional
Socialista da Ucrânia. [Nota do transcritor no original: Na verdade, o atual
líder do Svoboda disse que todos os ucranianos devem se tornar nazistas].
Rádio Asheville FM: Você tem algo
a dizer sobre o partido Assembleia Nacional da Ucrânia?
Denys: Eles não são muito
influentes agora. Eles costumavam ser um poderoso partido de extrema-direita
nos anos 1990, quando realmente tiveram seus próprios soldados paramilitares, e
até mesmo um semi-exército. Seus combatentes participaram na guerra da
Chechênia e noutras guerras do Cáucaso e na Transnístria. E, sim, eles foram muito
assustadores. Mas, hoje eles são apenas, principalmente, um clube para os
nazistas que não gostam do Svoboda.
[...]
Rádio Asheville FM:Para trazê-lo
de volta para aos protestos, inicialmente o Euromaidan começou no dia 21 de
novembro com 2.000 pessoas que se reuniram e ocuparam a Maidan de Kiev. É a
praça da Independência, certo?
Denys: Sim.
Rádio Asheville FM:E, Maidan
significa praça?
Denys: Sim.
Rádio Asheville FM: Você pode
falar um pouco sobre a Revolução Laranja e as comparações que foram feitas
entre os protestos que estão acontecendo agora e a escala desses protestos e
talvez a falta de escala nas demandas das pessoas nas ruas?
E podes comparar o EuroMaidan com
a revolução laranja?
Denys: Bem, uma coisa que foi
proeminente nos acontecimentos da Revolução Laranja foi o foco numa só pessoa.
Todo mundo estava gritando
"Yushchenko", o nome do presidenciável e, nesse momento, toda a
esquerda estava criticando a revolução laranja por isso, porque não dedicavam
atenção a outros problemas vitais, eles só gritavam "Yushchenko" e
pensavam que ele era o Messias que iria resolver as coisas.
Mas, hoje eles não têm mesmo isso
e ainda não dedicaram nenhuma atenção às questões "do pão e da manteiga".
As grandes massas de pessoas têm a ilusão acerca do conto de fadas da Europa,
que querem aderir. E ninguém diz nada sobre o verdadeiro conteúdo desse Acordo
de Associação com a UE.
Sim, agora eu percebo que a
mobilização já é maior do que nos eventos de 2004, por isso, potencialmente, a
oposição detém um grande recurso, mas o problema é que eles realmente não sabem
como usá-lo.
Podemos ler nas entrevistas dos
políticos que participaram da Revolução Laranja como os políticos controlavam a
multidão com muito mais força.
Por exemplo, um político
recentemente deu uma entrevista e disse: "Você sabe por que naquela época
a Euromaidan era totalmente laranja e agora têm diferentes bandeiras de
diferentes cores? Bem, isso não é uma coincidência. É apenas porque em todos os
dias em 2004 nós trouxemos 300 novas bandeiras laranjas.
Eles controlavam a multidão,
deram as bandeiras e fizeram o seu trabalho de organização de forma mais
eficiente do que agora. Atualmente, a oposição parlamentar esteve apenas
respondendo a uma mobilização espontânea; eles não ordenaram isto e
simplesmente não sabiam o que fazer nos primeiros dias. Nesta situação, mais
uma vez, o partido mais preparado acabou por ser o Svoboda. Ele é o único
partido que tem seus próprios ativistas, que podem fazer coisas no campo.
Então, eles obtém atualmente o máximo benefício, como parece agora.
Rádio Asheville FM: Como é que os
meios de comunicação na Ucrânia tratam disso como interagiram com o movimento
Euromaidan e qual é a estrutura de propriedade dos meios de comunicação na
Ucrânia. Que tipo de influências as diferentes estações têm?
Denys: Ah, é uma história muito
interessante, pois em 2004, durante a Revolução Laranja, todos os meios de
comunicação foram fortemente censurados a esse respeito e todas as pessoas
estavam assistindo o Canal 5. Este foi o único canal de TV transmitindo todos
estes eventos, porque o seu proprietário era Petro Poroshenko, um político da
oposição. Hoje, a estrutura de propriedade não é melhor para a oposição, mas
ainda assim todos os principais canais de televisão e, geralmente, todos os
principais meios de comunicação, estão cobrindo a história bem de perto. Quando
ocorreu a sangrenta repressão, todos os principais canais pertencentes aos
oligarcas mais ricos cobriram quase ao vivo, mostrando a polícia de choque
batendo em pessoas e dizendo o quão terrível é isso e assim por diante.
Isso mostra que os proprietários
dos meios de comunicação não estão realmente felizes com o atual presidente, e
esta foi uma grande novidade para a maioria dos ucranianos também. Porque há
uma popular crença de que todos os oligarcas estão por trás do atual
presidente, mas, como pudemos ver agora recentemente, os consultores
empresariais do presidente ucraniano Yanukovich realmente irritaram os magnatas
da mídia, que são os proprietários de grande parte do PIB da Ucrânia. Eles não
estão muito felizes com a família do presidente fazendo coisas que não deveriam
fazer com os seus negócios. [...]
Fonte: Diario Liberdade
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