Diretor da Unifesp de Guarulhos defendeu a ação truculenta da Polícia
Militar, tentou se esquivar da responsabilidade pelo envio dos policiais para
reprimir um protesto estudantil e reitor Albertoni declarou que os estudantes
“têm que pagar pelo que fizeram”
O diretor da Unifesp de
Guarulhos, Marcos Cesar Freitas, esteve na noite do dia 14 de junho, para
acusar os estudantes presos na Superintendência da Polícia Federal da Lapa.
Ele estava acompanhado do
procurador-geral da Unifesp para prestar depoimento a respeito da ação violenta
da Polícia Militar.
O campus foi sitiado na noite do
dia 14 e os professores que estavam no local foram coagidos pela polícia a se
encaminhar para a Superintendência da Polícia Federal.
O reitor e o diretor responsável
por manter o campus sem salas de aula suficientes, sem biblioteca e sem
moradia, e com um restaurante improvisado, mandaram a Polícia Militar reprimir
violentamente os estudantes.
Após uma assembleia geral com a
presença dos estudantes do campus de São Paulo, Guarulhos, Diadema e Baixada
Santista e a aprovação da greve com um dos pontos de pauta sendo “fora Albertoni [reitor]” foi feita uma
passeata e os estudantes foram até o terminal do bairro dos Pimentas entoando
palavras de ordem e reivindicações.
O ato terminou em frente a
diretoria acadêmica com a denúncia da repressão policial sofrida na última
semana.
Com batuques e palavras de ordem
os estudantes ficaram em frente a diretoria até que duas viaturas da polícia
militar chegaram e os policiais invadiram o campus com armas de bala de
borracha e bombas de efeito moral. Dois deles entraram na diretoria acadêmica e
saíram em seguida.
Um dos policiais agarrou uma
estudante e a arrastou para um canto escuro separada dos demais, o que causou
grande revolta em todos os presentes que gritaram pedindo que a soltassem.
Os outros policiais começaram a
atirar balas de borracha, ferindo um estudante no nariz e outros nas costas e
pernas. Foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral e atiradas
mais balas de borracha. A estudante de letras Laisy Cruxên, 25 anos, foi
arrastada até uma viatura e algemada. Nesse momento os policiais deram tapas em
seu rosto e gritavam que se não ficasse quieta a jogariam no chão e depois
declarariam que ela tinha caído.
Os estudantes correram com medo
do ataque policial e esses os seguiram pelo campus e os encurralaram. Os
policiais gritavam “mais um passo e eu atiro”.
Os estudantes passaram por uma revista
típica da polícia militar brasileira com ameaças, agressões e humilhações.
Todos ficaram virados para parede com as mãos para cima. Os policiais diziam
“vagabundos, lixo, isso é não é manifestação. Vocês são vândalos”. Além disso,
afirmaram “para estudar nos Pimentas vocês devem ser muito ignorantes”. “Vocês
são marginais”. Uma estudante foi empurrada e teve a cabeça batida contra a
porta de vidro que estava em sua frente.
Mais de um estudante foi puxado
da parede e ameaçado pelos policiais. Logo depois quatro estudantes (duas
mulheres e dois homens) foram algemados.
Foram levados e sentaram lado a
lado no local em que deveria existir o prédio da unidade. Um policial recolheu
os documentos dos estudantes com uma bomba em uma das mãos.
Um micro-ônibus da prefeitura da
cidade de Guarulhos chegou e antes de entrarem no ônibus foram ameaçados de
morte pelos policiais.
O policial que também estava sem
identificação, como os demais, afirmou que policiais armados acompanhariam no
ônibus e que qualquer movimento como levantar a cabeça ou conversar “ia levar
no peito”.
O campus sob estado de sítio
O campus da Unifesp foi mais uma
vez sitiado. Todos os professores do local foram coagidos pela Polícia Militar
a ir até a superintendência da Polícia Federal para identificar os estudantes e
testemunhar contra eles.
Cerca de 10 professores foram
escoltados pela PM e foram para a sala de identificação. Cinco estudantes
entraram na sala e nenhum professor os identificou. O delegado “Nelson”, da
Polícia Federal, ficou irritado e afirmou que eles estariam “obstruindo a
Justiça”, porém os professores se mantiveram quietos.
Uma professora relatou que mesmo
pedindo para ir embora, pois seus filhos a esperavam, foi impedida de sair.
Todos os estudantes foram obrigados a se identificar e por volta de três horas
da manhã foram liberados.
A informação dos policiais
militares para os estudantes presos era de que oito professores estavam na
Superintendência da Polícia Federal, pois haviam sido “vítimas” dos estudantes.
Farsa da diretoria cai
por terra
No dia seguinte à violência
policial, a diretoria da Unifesp de Guarulhos publicou em nota pela manhã
dizendo que não tinha chamado a polícia, mas que em uma ronda perto da unidade
da PM viu o que estava acontecendo.
A Polícia Militar diante da
declaração da diretoria, publicou o áudio da chamada, cuja transcrição diz:
“aqui é da Universidade Federal de São Paulo, por favor, eu preciso que vocês
mandem a Polícia Militar para cá, porque houve um acordo entre a
superintendência da Polícia Federal e o comandante aqui de Guarulhos, para que
se houvesse qualquer ato de vandalismo à direção aqui no campus de Guarulhos a
PM seria acionada ". Logo depois, a funcionária Lilian, passa a ligação
para o diretor acadêmico Marcos Cersar
Freitas que afirma que tem crianças no protesto, que não jogavam pedras e
que estavam “entrando e saindo”. "Eles [os alunos] estão aqui na sede,
estão entrando e saindo, tem criança junto”.
Um vídeo realizado pelos
estudantes no momento mostra a ação bárbara dos policiais.
O reitor Albertoni afirmou em Coletiva de imprensa sobre o caso
"Não quero ver ninguém preso [diante da ameaça de eles serem levados para
presídios femininos e masculinos], mas os estudantes têm de responder pelos
atos que cometeram".
Se eximindo de qualquer
responsabilidade pela ação da PM, Albertoni afirmou: "Não posso fazer
nada. Não tenho como retirar a queixa porque não fui eu quem a fez”.
O reitor declarou ainda que os
estudantes presos infringiram os termos de um mandado de segurança assinado por
eles no dia 6, quando ocorreu a reintegração de posse do campus.
"Eles assinaram se
comprometendo a não fazer nova ocupação”, afirmou. É uma invenção do reitor,
visto que os estudantes detidos na semana passada na desocupação da diretoria
da Unifesp, assinaram apenas um termo se comprometendo a comparecer na Justiça
caso seja solicitado.
Ocorre que os estudantes não
ocuparam nada, estavam apenas fazendo um protesto.
Albertoni declarou ainda que os
professores foram acuados pelos estudantes e chamaram a polícia. Uma mentira
deslavada visto que os funcionários saíram pela porta contrária a que os
estudantes protestavam.
Defendendo a truculência da PM, o
reitor afirmou: "A PM agiu seguindo um critério". Qual será esse
“critério”? A pergunta fica no ar.
Os estudantes passaram 24 horas
presos, sendo que, durante quatro horas, ficaram na carceragem da Polícia
federal. Durante todo o tempo foram ameaçados e não podiam falar com ninguém.
Os policiais federais retiraram os celulares dos estudantes assim que entraram,
por volta de 22h do dia 14, deixando-os incomunicáveis. Eles não podiam fazer
nenhuma ligação, nem falar com seus advogados.
Durante a madrugada os advogados
entraram e puderam conversar com os estudantes separadamente.
Os estudantes não podiam falar
uns com os outros e a Polícia Militar se postou ao fundo do salão ameaçando
diante de qualquer movimentação de cabeça.
Por volta de 11h do dia 15 é que
os estudantes começaram a prestar depoimentos e puderam fazer suas ligações.
As imagens feitas pelos
estudantes foram importantes para denunciar como age a polícia militar e a
ditadura imposta na Unifesp contra o movimento estudantil.
Fonte: site PCO
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