Heitor Scalambrini Costa
Persiste entre formadores de
opinião, o uso pejorativo do termo “ambientalista”, visando depreciar os
cidadãos que lutam pela causa ambiental, além de tentar esconder outras
intenções, menos ingênuas, como fazer o jogo dos poderosos, dos poluidores, que
têm seus interesses contrariados pela persistência daqueles que defendem a
preservação do meio ambiente e das condições de vida no planeta.
Os últimos relatórios dos grupos
de trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
mostram inquestionavelmente que a ação humana é a principal causa da elevação
da temperatura média da Terra, ou aquecimento global. Mesmo assim, interesses
poderosos das industrias de combustíveis fósseis e nucleares, da agroindústria,
dentre outros, continuam a negar este fato, financiando campanhas que atacam
aqueles que propõem mudanças no atual estilo de vida perdulário, no consumo e
na produção de matérias primas e energia.
O crescimento sempre foi um
objetivo da política econômica. Acreditava-se que o aumento da renda de um país
fosse suficiente para proporcionar uma vida melhor a seus habitantes. Portanto,
a partir de uma análise simplificada, geralmente utilizando o Produto Interno
Bruto (PIB) como indicador base, bastava o anúncio de seu aumento, para que se
aceitasse que os indicadores de bem estar o estavam acompanhando. Isto de fato
não acontece.
Já há alguns anos, verificam-se
os danos causados pela atividade econômica sobre o planeta. Em nome do
crescimento a qualquer preço, tudo é permitido, inclusive a destruição do meio
ambiente. São incontestes as evidencias de que não é mais possível crescer e
enriquecer para melhorar a qualidade de vida da maioria da população. Ou seja,
manter os padrões atuais de produção e consumo esbarra nos limites físicos do
nosso planeta.
Estamos recebendo sinais de
reação da Terra à quantidade excessiva de gases emitidos, que geram o
denominado “efeito estufa”, em particular devido ao CO2 (dióxido de carbono),
pelo uso massivo dos combustíveis fósseis. A Terra reage também ao desmatamento
desenfreado das florestas para diferentes finalidades, ao desperdício e
poluição das fontes de água doce, reduzindo assim sua disponibilidade pelo uso
irracional desse bem fundamental para a vida.
O IPCC, através de seus
relatórios e pareceres, traz conclusões científicas irrefutáveis sobre o
aquecimento global, que provoca um aumento significativo na freqüência e na
intensidade dos “desastres naturais”. A concentração de CO2 na tênue atmosfera
que nos protege atingiu, em abril de 2014,
400 ppm (partes por milhão), superando o limite histórico. Valor
emblemático, pois este é valor considerado pelos cientistas como limite para
evitar os piores cenários do clima. Segundo o IPCC, acima de 400 ppm de CO2 a
temperatura média do planeta poderá subir entre 2 a 5 graus centígrados até o
final deste século, e isto poderá provocar a aceleração do degelo, tempestades
mais violentas, graves impactos sobre a biodiversidade, com a inevitável
extinção de espécies, e milhões de refugiados ambientais, os quais terão de
buscar outros lugares para viver.
No entanto, mesmo com todas as
catástrofes recentes, em todo o mundo, e com os claros alertas científicos do
IPCC, continuamos sem dar a devida atenção ao maior desafio de nosso tempo: as
mudanças climáticas. Elas estão entre nós e estão se acelerando.
Precisamos, pois, entender que
todos os que lutam pela vida no planeta Terra – que lutam por um mundo melhor,
por uma sociedade mais igualitária, e socialmente mais justa – são também,
responsáveis pela preservação ambiental. Ou seja, com exceção daqueles que
lutam apenas para manter os seus privilégios, somos todos ambientalistas!
Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de
Pernambuco. foto imagem internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário