"Decidimos resistir à ação
de despejo e seremos mortos pela arma de fogo dos homens brancos ou policiais.
Não há dúvida. Não iremos recuar nem um passo para traz, vamos resistir por
questão de honra e profundo respeito aos nossos ancestrais", diz a carta
Brasil de Fato- Diante de cincos
ordem de despejo judicial contra os Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul
(MS), o Aty Guasu divulgou uma carta direcionada ao Governo Federal, Justiça
Federal e para todas as sociedades nacionais e internacionais do mundo, em que
os cerca de 5 mil índios reafirmam que não sairão de suas terras.
Prevendo que o pior pode
acontecer com a resistência, para eles, ficar em suas terras é questão de
honra. "Decidimos resistir à ação de despejo e seremos mortos pela arma de
fogo dos homens brancos ou policiais. Não há dúvida. Não iremos recuar nem um
passo para traz, vamos resistir por questão de honra e profundo respeito aos
nossos ancestrais", diz a carta.
Os índios ainda solicitam à
presidenta Dilma e à Justiça Federal - que decretou a nossa expulsão - para
"assumir a responsabilidade de amparar e ajudar as crianças, mulheres e
idosos (as) sobreviventes aqui no YVY KATU que certamente vão ficar sem pai e
sem mãe após a execução do despejo pela força policial", diz a carta.
Veja a carta na íntegra:
*Decisão definitiva de 5.000
indígenas Guarani e Kaiowá para Governo,
Hoje no dia 12 de dezembro de
2013, nós 5.000 mil indígenas Guarani e Kaiowá do TEKOHA YVY KATU recebemos
notícia de mais uma ameaça de morte coletiva, é a ordem de violência contra nós
e despejo expedida pela Justiça Federal do Tribunal Regional de São Paulo-S.P.
Assim, claramente a justiça
brasileira vai matar todos nós Guarani e Kaiowá. Mais uma ordem de despejo da
Justiça Federal deixa evidente para nós que a Justiça do Brasil está
autorizando o extermínio Guarani e Kaiowá, as violências, morte coletiva,
sobretudo extinção e dizimação Guarani e Kaiowá do Brasil.
Entendemos que em 10 anos, a
Justiça Federal do Brasil já decretou várias vezes a nossa expulsão de nossa
terra YVY KATU que significa que a Justiça do Brasil está mandando matar todos
nós índios aqui no Yvy Katu. Já faz dois meses que retornamos comunicar à
Justiça Federal e ao Governo Federal que nós comunidades voltamos a reocupar o
nosso tekoha YVY KATU e recomeçamos morar no pedaço de nossa terra.
Avisamos também que não vamos
sair mais de nossa terra YVY KATU, aqui morreremos todos juntos, aqui queremos
ser enterrados todos. Essa é a nossa decisão definitiva que não mudamos nossa
decisão. Já enviamos e reenviamos várias vezes ao Governo Federal e ao Ministro
da Justiça, à Presidenta Dilma, ao Ministério Público Federal, ao Presidente do
Supremo Tribunal Federal.
Hoje 12/12/2013, mais uma vez,
encaminhamos a nossa decisão definitiva à Presidenta Dilma e ao Presidente do
Conselho Nacional da Justiça e do Supremo Tribunal Federal para entender e
atender os nossos últimos pedidos. Demandamos às autoridades federais supremas
do Brasil as seguintes. Estamos reunidos 4.000 mil Guarani e Kaiowá aqui no
tekoha YVY KATU para resistir à ordem de despejo, a nossa decisão é lutar até
morte pela nossa terra YVY KATU, nem depois de nossa morte não vamos sair daqui
do YVY KATU.
Pedimos ao Governo Dilma e
Presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa para mandar somente
enterrar coletivamente todos nós aqui no tekoha YVY KATU. Nem vivos e nem morto
iremos sair daqui de nossa terra antiga. Com vida ainda, antecipamos os nossos
pedimos à Justiça, esse nosso direito de ser sepultado ou enterrado aqui no YVY
KATU, esse pedido exigimos à Justiça do Brasil.
Solicitamos ainda à presidenta
Dilma, à Justiça Federal que decretou a nossa expulsão e a morte coletiva para
assumir a responsabilidade de amparar e ajudar as crianças, mulheres e idosos
(as) sobreviventes aqui no YVY KATU que certamente vão ficar sem pai e sem mãe
após a execução do despejo pela força policial.
Uma vez que a Justiça Federal de
Navirai-MS em novembro, já determinou o uso da força policial contra nossa
vidas e luta, diante disso comunicamos à juíza federal que nós vamos resistir
até morte à ordem de despejo, temos absoluta certeza que morreremos pela nossa
terra YVY KATU, a juíza já está ciente de nossa decisão. Todas as autoridades
também já estão cientes de nossa decisão que como povo nativo Guarani vamos
lutar até a morte pela terra YVY KATU.
Hoje 12/12/2013, mais uma vez
passamos comunicar ao juiz federal do Tribunal Federal de São Paulo que não
vamos sair do tekoha YVY KATU, aqui vamos resistir e morrer todos lutando. De
forma igual, comunicamos à presidenta Dilma. Pela última vez, avisamos a todos
(as) que a partir de hoje 12/12/2013, começamos a realizar um raro ritual
religioso nosso de despedida da vida da terra, essa é a nossa crença, um ato
consciente de preparação da vida para a morte forçada pelas armas de fogo dos
homens brancos, ou melhor, começamos a participar da cerimônia de aceitação e
confirmação da saída forçada da alma do corpo e sua volta ao cosmo Guarani em
função da morte forçada no campo da luta.
Esse é um dos rituais de
despedidas da vida que raramente se realiza, mas hoje começamos a praticar.
Começamos a participar desse ritual de aceitação da morte forçada e despedida
da vida, das famílias e dos amigos (as), pois sabemos bem que a Justiça Federal
está autorizando os homens brancos armados para atacar e matar nós aqui no
tekoha YVY KATU.
Comunicamos a todos (as), pois
nós Guarani e Kaiowá do YVY KATU decidimos a resistir à ação de despejo e
seremos mortos pela arma de fogo dos homens brancos ou policiais. Não há
dúvida. Não iremos recuar nem um passo para traz, vamos resistir por questão de
honra e profundo respeito aos nossos ancestrais mortos no YVY KATU, decididos,
vamos lutar e morrer pela nossa terra onde estão enterrados os nossos
antepassados. Por essa razão, pedimos ao Governo e a Justiça para mandar
enterrar nós todos aqui no tekoha YVY KATU, porque nem vivo e nem morto não
vamos sair do tekoha YVY KATU.
Essa é a nossa decisão
definitiva. Mais uma vez, convidamos a todas as sociedades nacionais e
internacionais para acompanhar e assistir ao genocídio e a dizimação de 4.000
povo nativo Guarani e Kaiowá do YVY KATU pela justiça do Brasil por meio dos
homens “brancos” POLICIAIS armados brasileiros aqui no Mato Grosso do
Sul/BRASIL.
Tekoha Yvy Katu, 12 de dezembro
de 2013
Comunidades Guarani e Kaiowá do
tekoha YVY KATU-Japorã-MS-BRASIL
Foto: Reprodução/Facebook Share on facebook
FONTE: Brasil de fato-
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