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terça-feira, 7 de maio de 2013

Belo Monte: "o governo perdeu o juízo", afirmam indígenas



Indígenas que ocupam o principal canteiro da Usina de Belo Monte (PA) exigem a suspensão das obras até que seja realizada a consulta prévia sobre a construção de grandes projetos



Ruy Sposati


Em resposta à nota da Secretaria Geral da Presidência da República sobre a ocupação do canteiro de obras de Belo Monte, indígenas lançaram carta rebatendo ataques do governo federal, nessa terça-feira (7). Há seis dias ocupados no principal canteiro de obras da hidrelétrica, os indígenas aguardam a presença do ministro Gilberto Carvalho no local.

"O governo está ficando mais violento", afirma a carta. Os manifestantes apontam o recrudescimento da postura do governo, na imprensa e no próprio canteiro. "Nós permanecemos calmos e pacíficos. Vocês não", afirmam.                                                                                                                                                                                                                                                                   
                                               
Indígenas denunciam invasão militar na ocupação.

Foto: Paygomuyatpu Munduruku 


Segundo os indígenas, a área da ocupação foi militarizada, com presença em tempo integral de tropas armadas que "revistam as pessoas que passam e vem, a nossa comida, tiram fotos, intimidam e dão ordens", além de expulsar, multar e ameaçar de prisão jornalistas e retirar advogados e apoiadores.

Na segunda-feira (6), os ocupantes realizaram uma coletiva de imprensa com jornalistas na porta do canteiro para denunciar a censura aos jornalistas. Uma cópia da carta, assinada por todos os indígenas, foi entregue aos repórteres, reforçando a reivindicação dos indígenas e exigindo da Justiça a garantia da presença de observadores externos na área da ocupação.


Indígenas de nove povos diferentes ocupam o principal canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte, na região de Altamira, no Pará, exigindo a suspensão das obras e estudos de hidrelétricas nos rios Xingu, Teles Pires e Tapajós, até que seja realizada a consulta prévia sobre a construção de grandes projetos que impactem territórios indígenas.

(Fotos: Paygomuyatpu Munduruku)

Leia na íntegra a carta dos indígenas:

Carta no. 4: o governo perdeu o juízo

Nós lemos a nota da Secretaria Geral da Presidência da República.

O governo perdeu o juízo. Gilberto Carvalho está mentindo. O governo está completamente desesperado. Não sabe o que fazer com a gente.

Os bandidos, os violadores, os manipuladores, os insinceros e desonestos são vocês. E ainda assim, nós permanecemos calmos e pacíficos. Vocês não.


Vocês proibiram jornalistas e advogados de entrar no canteiro, e até deputados do seu próprio partido.
Vocês mandaram a Força Nacional dizer que o governo não irá dialogar com a gente. Mandaram gente pedindo listas de pedidos.

Indígenas denunciam invasão militar na ocupação.  Foto: Paygomuyatpu Munduruku 

Vocês militarizaram a área da ocupação, revistam as pessoas que passam e vem, a nossa comida, tiram fotos, intimidam e dão ordens.

Entendemos que é mais fácil nos chamar de bandidos, nos tratar como bandidos. Assim o discurso do Gilberto Carvalho pode fazer algum sentido.

Mas nós não somos bandidos e vocês vão ter que lidar com isso.

Nossas reivindicações são baseadas em direitos constitucionais. Na Constituição Federal, nas legislações internacionais. E temos o apoio da sociedade e até dos trabalhadores que trabalham para vocês.

O governo está ficando mais violento. Nas palavras na imprensa, e também aqui no canteiro com seu exército.

É o governo que não quer cooperar com a lei. E faz manobra para tentar desqualificar nossa luta, inventando histórias para a imprensa.

Hoje fazem seis meses que vocês assassinaram Adenilson Munduruku. Nós sabemos bem como vocês agem quando querem alguma coisa.

A má-fé é do Gilberto Carvalho. e apesar de tudo, nós queremos que ele venha no canteiro dialogar conosco. Estamos esperando por você, Gilberto. Pare de mandar policiais com armas na mão para entregar propostas vazias. Pare de tentar nos humilhar na imprensa.

Nós estamos em seu canteiro e não iremos sair enquanto vocês não saírem das nossas aldeias.

Belo Monte, Canteiro de obras, Vitória do Xingu, 7 de maio de 2013

Fonte: site Brasil de Fato


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