Ruy Sposati
Em resposta à nota da Secretaria
Geral da Presidência da República sobre a ocupação do canteiro de obras de Belo
Monte, indígenas lançaram carta rebatendo ataques do governo federal, nessa
terça-feira (7). Há seis dias ocupados no principal canteiro de obras da
hidrelétrica, os indígenas aguardam a presença do ministro Gilberto Carvalho no
local.
"O governo está ficando mais
violento", afirma a carta. Os manifestantes apontam o recrudescimento da
postura do governo, na imprensa e no próprio canteiro. "Nós permanecemos
calmos e pacíficos. Vocês não", afirmam.
Indígenas denunciam invasão
militar na ocupação.
Foto: Paygomuyatpu Munduruku
Segundo os indígenas, a área da
ocupação foi militarizada, com presença em tempo integral de tropas armadas que
"revistam as pessoas que passam e vem, a nossa comida, tiram fotos,
intimidam e dão ordens", além de expulsar, multar e ameaçar de prisão
jornalistas e retirar advogados e apoiadores.
Na segunda-feira (6), os
ocupantes realizaram uma coletiva de imprensa com jornalistas na porta do
canteiro para denunciar a censura aos jornalistas. Uma cópia da carta, assinada
por todos os indígenas, foi entregue aos repórteres, reforçando a reivindicação
dos indígenas e exigindo da Justiça a garantia da presença de observadores
externos na área da ocupação.
Indígenas de nove povos
diferentes ocupam o principal canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Belo
Monte, na região de Altamira, no Pará, exigindo a suspensão das obras e estudos
de hidrelétricas nos rios Xingu, Teles Pires e Tapajós, até que seja realizada
a consulta prévia sobre a construção de grandes projetos que impactem
territórios indígenas.
(Fotos: Paygomuyatpu Munduruku)
Leia na íntegra a carta dos indígenas:
Carta no. 4: o governo perdeu o juízo
Nós lemos a nota da Secretaria
Geral da Presidência da República.
O governo perdeu o juízo.
Gilberto Carvalho está mentindo. O governo está completamente desesperado. Não
sabe o que fazer com a gente.
Os bandidos, os violadores, os
manipuladores, os insinceros e desonestos são vocês. E ainda assim, nós
permanecemos calmos e pacíficos. Vocês não.
Vocês proibiram jornalistas e
advogados de entrar no canteiro, e até deputados do seu próprio partido.
Vocês mandaram a Força Nacional
dizer que o governo não irá dialogar com a gente. Mandaram gente pedindo listas
de pedidos.
Indígenas denunciam invasão militar na ocupação. Foto: Paygomuyatpu Munduruku
Entendemos que é mais fácil nos
chamar de bandidos, nos tratar como bandidos. Assim o discurso do Gilberto
Carvalho pode fazer algum sentido.
Mas nós não somos bandidos e
vocês vão ter que lidar com isso.
Nossas reivindicações são
baseadas em direitos constitucionais. Na Constituição Federal, nas legislações
internacionais. E temos o apoio da sociedade e até dos trabalhadores que
trabalham para vocês.
O governo está ficando mais
violento. Nas palavras na imprensa, e também aqui no canteiro com seu exército.
É o governo que não quer cooperar
com a lei. E faz manobra para tentar desqualificar nossa luta, inventando
histórias para a imprensa.
Hoje fazem seis meses que vocês
assassinaram Adenilson Munduruku. Nós sabemos bem como vocês agem quando querem
alguma coisa.
A má-fé é do Gilberto Carvalho. e
apesar de tudo, nós queremos que ele venha no canteiro dialogar conosco.
Estamos esperando por você, Gilberto. Pare de mandar policiais com armas na mão
para entregar propostas vazias. Pare de tentar nos humilhar na imprensa.
Nós estamos em seu canteiro e não
iremos sair enquanto vocês não saírem das nossas aldeias.
Belo Monte, Canteiro de obras,
Vitória do Xingu, 7 de maio de 2013
Fonte: site Brasil de Fato
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