
Ser um candidato presidenciável
competitivo, mesmo negando esta pretensão, vai requerer alianças. E o PSB a
nível nacional mostrou nas ultimas eleições que não tem nenhum “pudor” em se
aliar à direita, ao centro e a esquerda. Como não tem abrangência nacional,
mesmo tendo crescido eleitoralmente, vai precisar de palanques nos diversos
estados, pois não basta somente ter votos em Pernambuco para eleger seu
candidato a presidente do Brasil. Mas isto não será problema quando o objetivo
é alcançar o poder. Outros já fizeram alianças incompreensíveis para o eleitor
e a sociedade, e conseguiram chegar lá, em passado recente. “Visões
alternativas”, “programa de governo contemporâneo, moderno”, “caça aos marajás
e a corrupção”, “competência administrativa”, “choque de gestão” são meras
expressões/ artifícios eleitorais, utilizados pela propaganda eleitoral dos
partidos políticos e candidatos para iludirem o eleitor.
Primeiramente a estratégia do
quase futuro candidato é sair fortalecido de seu Estado e da sua região para o
embate nacional. Ao vender a imagem de um governante moderno, eficiente na
gestão pública, que se vangloria de empregar princípios da meritocracia e do
monitoramento de metas; utiliza o marketing politico/eleitoral através da
propaganda, descolada da realidade, vendendo ilusões. Antes de se lançar
verdadeiramente como candidato ele sabe que deverá administrar bem Pernambuco.
A qualidade dos serviços públicos
(e o financiamento das políticas públicas) como forma republicana de inclusão
social foi deixada de lado em Pernambuco. Daí uma urbanização verticalizada e
desordenada, paraíso da especulação imobiliária. Este modelo promove relações
promiscuas dos gestores públicos com agentes e promotores do que chamam
“desenvolvimento econômico” sustentável. Seria isso o “choque de gestão”:
privatizar serviços públicos? Oferecer e mesmo “vender” o estado e a cidade a
empresários, investidores, turistas e outros? Nunca se viu por estas bandas
tantas facilidades aos capitais nacionais e internacionais, um verdadeiro
capitalismo sem risco. Ah! A se doutor Arraes estivesse vivo. Com certeza não
se calaria.
Para o governo, ao que parece, a
solução para todos os problemas passa pela privatização. Hoje se pratica uma
política deliberada de favorecimento da iniciativa privada pelo poder público,
sendo esta a tônica da gestão que comanda nosso Estado. Agora o modelo é o das
concessões. Mudou o nome, mas o fato é que o PSB em Pernambuco (e no Brasil)
clona as privatizações dos governos do PSDB e do PT/PMDB.
Vamos a seguir, analisar
brevemente o que acontece com alguns dos serviços essenciais oferecidos a
população como saúde, educação, saneamento e infância/ juventude; desmascarando
assim a propaganda oficial. Indo na contra mão da subserviência onipresente, provinciana,
“bairrista” que tomou conta da imprensa pernambucana quando se trata de temas
relacionados ao governador.
Saúde
Ao mesmo tempo em que foi
promulgada a Constituição Brasileira de 1988 - cujo teor prescrevia o direito
universal do acesso à saúde pública, integral e gratuita - expandiu-se no País,
em um movimento contraproducente ao que estava disposto na Carta Magna; o setor
empresarial de saúde suplementar, impulsionado por entidades pautadas por
práticas estritamente comerciais, alheias à natureza do serviço prestado e às
necessidades dos pacientes que, atualmente, representam mais de um quarto da
população.
A saúde pública em Pernambuco
caminha a passos largos para que o gerenciamento das unidades de saúde venham a
ser transferidas para as Organizações Sociais (OS´s). Em estados em que este
modelo foi adotado, como em São Paulo, as consequências foram desastrosa,
antidemocrática e antissocial. . A terceirização da saúde pública criou
diversos problemas, pois gera a mercantilização de um sistema que por dever é
de responsabilidade do poder público e por direito, da população, que deve ter
acesso a uma saúde de qualidade, ágil e resolutiva. Com a privatização dos
serviços públicos, os médicos, os profissionais da saúde e os usuários assistiram
a um processo acelerado de sucateamento, artifício utilizado pelo gestor
público para justificar a manutenção do serviço de privatização. Além disso, a
terceirização gera uma rotatividade desastrosa nas contratações. Profissionais
são contratados sem concurso público, sendo muitos deles sem qualificação
adequada, o que gera grande desassistência aos usuários do sistema.
Em são Paulo, desde maio de 2012,
a Justiça do Trabalho, proibiu todas as contratações de funcionários nas
parcerias entre a Secretaria de Saúde e as OS´s por suposta terceirização
irregular de mão de obra, mas a Procuradoria do Estado tenta reverter essa decisão. Desde 1998,
tramita uma ação direta de inconstitucionalidade para julgar a validade desses
convênios. Nos últimos anos, houve também outras tentativas de impedir
judicialmente os contratos com as OS´s, mas uma decisão definitiva do Supremo
Tribunal Federal (STF) é aguardada.
Em Pernambuco este é um dos
serviços públicos que aparecem nas pesquisas de opinião como um dos mais mal
avaliados. Mesmo com as construções (o
que “dá mídia”) de prédios: hospitais, unidades de pronto atendimento,
recuperação física de hospitais e postos de saúde; a ausência de profissionais,
a falta de medicamentos e de condições de trabalho para os profissionais são
evidentes, e impossíveis de maquiar, de esconder da população, que vive um
martírio diário quando necessita de atendimento.
Administração da saúde publica em
Pernambuco é desastrosa como no restante do Brasil.
Educação
A educação nacional é uma das
piores entre 40 países que se consideram civilizados, avaliados em relação ao
sistema educacional, segundo uma ONG inglesa. O Brasil ficou classificado em
penúltimo lugar.
Em Pernambuco, quando o assunto é
educação, o ensino público tem se mostrado na prática precário, insatisfatório
e ineficaz. A situação da infraestrutura física das escolas é deplorável,
juntamente com as condições de trabalho, e com as condições salarias dos
principais protagonistas, os docentes. A precariedade neste setor é tão
evidente, que apesar do governo tentar encobrir esta realidade com propaganda,
ações pontuais e isoladas, o que sempre resulta espaços na mídia; os
indicadores do desempenho são vergonhosos. Se levarmos em conta o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica/ 2011 (Ideb), calculado com base no
conhecimento dos alunos (Prova Brasil) e na taxa de aprovação, mesmo
considerando a grande facilidade de maquiagem dos resultados, a situação das
escolas estaduais é decepcionante e trágica. Com uma levíssima evolução em
relação ao IDEB de 2009, Pernambuco não alcançou a meta proposta pelo
Ministério da Educação, de 4,6. As escolas do Estado tiveram uma média de 4,3
tendo a media do Brasil de 5,0 (de 0 a 10). Onde se diferencia a gestão estadual
na área da educação comparada com o restante do Brasil?
Também números mais recentes
divulgados em maço/2013 pelo relatório De Olho nas Metas, elaborado pelo
Movimento Todos pela Educação, que acompanha os indicadores nacionais, de
acordo com o Ministério da Educação, mostram que a rede pública não atingiu as
metas estabelecidas. Foram quatro estados que não tem muito que comemorar na
educação, segundo este relatório além de Pernambuco, Alagoas, Amapá e Roraima.
Se escolas consideradas pelo
governo estadual como de referência, modelo de infraestrutura, propagandeada
como tendo aulas em turnos integrais (pelo menos duas vezes por semana), e com
ampla distribuição de tablets; apresentam deficiências visíveis e denunciadas
publicamente, com a falta de merenda, salas com mais de 45 alunos, sem
ar-condicionado, laboratórios inutilizados e com equipamentos eletrônicos
doados a escola e aos alunos de péssima qualidade, apresentando defeitos em
poucos meses de uso; tentem imaginar o que acontece com as escolas que não são
de referência.
As denúncias vão desde a drástica
redução de mais de 30% no quadro de trabalhadores na educação nos seis anos do
atual governo de 2007 a 20012, até a tentativa midiática de convencer a
população que a educação vai bem, com as viagens ao exterior de bem menos de 1%
dos estudantes da rede pública para intercâmbio no exterior, encobrindo as
mazelas e as situações deploráveis encontradas nas escolas. Mesmo naqueles
espaços de tempo integral, chamadas de referencia como o Ginásio Pernambuco, as
promessas não são cumpridas.
Todo este incompetente modelo de
gestão, mostra claramente, que mesmo com o discurso fácil da valorização do
professor e investimentos na infraestrutura das escolas, o mundo real esta
distante do mundo das promessas vazias.
Em Pernambuco a educação não é
prioridade como comprovam a situação das escolas e dos docentes, e os
indicadores nacionais sobre a qualidade do ensino.
Saneamento
A eliminação da enorme lacuna nos
serviços de água e esgoto constitui um dos maiores desafios para a política
pública brasileira. A situação do saneamento é trágica. Em 2010, mais da metade
da população (54%) não possuía acesso à rede de esgoto. Do esgoto coletado,
apenas 30% era tratado. A Lei do
Saneamento (11.445/07) prevê como princípio a universalização do acesso. Mais
daí avançar, é que são “outros quinhentos”.
Segundo a Agência Nacional de
Águas, 55% dos municípios podem sofrer desabastecimentos nos próximos quatro
anos, 84% das cidades necessitam de investimentos para adequação de seus
sistemas produtores de água, e 16% apresentam déficits decorrentes dos
mananciais.
A falta de saneamento tem efeitos
nefastos sobre a saúde e o meio ambiente. Segundo estudo da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) as doenças por veiculação hídrica ampliam a mortalidade infantil e
podem causar perda da capacidade de aprendizado escolar de até 18% em crianças
com até cinco anos. Segundo o Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil,
que considera os cem maiores municípios brasileiros, a média de internações por
diarreia é 546% maior para os dez piores do que nos 20 municípios mais bem
colocados.
Como é alardeado, o Brasil está
entre as maiores economias do mundo, mas nenhuma autoridade federal é capaz de
dizer com alguma segurança quando será universalizado, pelo menos o serviço de
esgoto sanitário. A questão do saneamento é uma vergonha nacional, pois menos
de dois terços dos lares brasileiros - 62,6% - têm acesso a saneamento, por
meio de rede coletora ou de fossa ligada à rede, segundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.
No caso pernambucano existe uma
triste realidade, pois hoje tem menos de 40% saneado e menos de 40% de água
encanada nas residências. A solução apontada pelo governador socialista: é a de
promover formas de privatização dos serviços de saneamento básico, através da
parceria pública privada (PPP). Sob o argumento de que o setor público sozinho
não tem os recursos e nem capacidade de gestão dos projetos.
Tais modificações no setor vêm
ocorrendo em um momento de muito baixo nível de reflexões, de formulação e de
forte desmobilização da sociedade civil. As lições procedentes da experiência
internacional, sobretudo nos Estados Unidos, Europa e América Latina mostram
que o que esta sendo adotado é um caminho equivocado. Frequentemente adotado
por razões imediatistas e orientados a satisfazer interesses privados e não a
solucionar os problemas dos serviços.
Mesmo com a pouca discussão, e as
enormes perguntas não respondidas a Companhia Pernambucana de Saneamento
(Compesa) assinou em 15/2/2013 o contrato de Parceria Publico e Privada para
execução da ampliação e da recuperação dos sistemas de coleta e tratamento de
esgotos para 14 municípios da Região Metropolitana do Recife e da cidade de
Goiânia, na Mata Norte do Estado. Com investimentos estimados em 4,5 bilhões de
reais nos próximos 12 anos. O consócio vencedor é formado pela Foz do Brasil
(braço da Odebrecht) e a Lidemarc.
Neste episódio da assinatura do
contrato que validou a PPP, merece destacar à posição do Tribunal de Contas do
Estado (TCE), que mesmo inicialmente ter verificado irregularidades no
contrato, voltou atrás na decisão e acabou acatando e aceitando a remuneração
média do valor investido proposto pelo consórcio de 8,41%. Enquanto a média
desse valor para as PPP´s no País varia de 6 a 6,5%. Também o atual governo
socialista sustentava que com a assinatura desta parceria público-privada não
haveria aumento nas tarifas. Pois no dia seguinte foi anunciado o aumento nas
tarifas de água.
A Compesa é uma das empresas mais
criticadas pela população pelos péssimos serviços prestados. A desfaçatez da
direção da empresa é tão grande, que seu presidente, um dos meninos de ouro do
atual governador, “administrador eficiente (?)”, chegou a se comprometer junto
à imprensa, que logo após o anúncio federal da redução das tarifas elétricas, a
empresa iria reduzir a conta de água dos pernambucanos. O que se viu foi um
aumento nas tarifas da ordem de 7.98%. Com a chiadeira geral, e querendo
seduzir a população, anunciou que o valor do aumento ficaria em 5,19%. Outra
promessa não cumprida pela Companhia envolvendo o próprio governador foi de que
não haveria mais racionamento de água no Estado. Outra grande mentira deslavada.
É importante que os gestores
públicos não mintam e que compromissos assumidos sejam cumpridos. Isso
significa respeitar o povo. Mas não é isso que acontece. E quem sofre as
consequências é a população iludida.
Infância e Juventude
O caso do tratamento dispensado a
infância/ juventude em Pernambuco é emblemático. O que se verifica são
promessas não cumpridas de uma reestruturação geral no sistema socioeducativo
para adolescentes e infratores, o descaso e o sucateamento que marcaram o ano
de 2012 por rebeliões e assassinatos. O saldo da violência e destruição foi
considerado um dos piores do Brasil, e obteve repercussão nacional e
internacional.
Curioso é que a Secretaria da
Infância e da Juventude não se pronuncia quando ocorrem as barbáries. Deixa a
bomba chiando nas mãos da própria Fundação de Atendimento Socioeducativo, a
famigerada Funase. Sucedem-se as rebeliões, motins, mortes e mutilações nas
unidades da Funase em todo o Estado.
O xis do problema é o seguinte:
por que o Governo do Estado não consegue exterminar o ovo da serpente na
Funase? Resposta: porque esta não é uma prioridade da ação governamental. Falta
decisão politica.
Enquanto não se desenvolve
politicas publicas estruturadoras nesta área, Pernambuco é lembrado como o
Estado que não apoia e protege a juventude e a infância. Há futuro com este
descaso?
A gestão pública estadual alega
que não tem dinheiro para os investimentos em saúde, educação, saneamento e
para crianças e jovens, e entregam ao setor privado estas atividades essenciais
a população. Ao mesmo tempo constata-se que existe uma alta carga tributária
sobre os assalariados, gordas desonerações para os mais ricos e fartos créditos
subsidiados pelo BNDES a algumas empresas. E mesmo assim serviços essenciais e
a infraestrutura continuam precários, caminhando para serem privatizados. Nisso tudo uma pergunta que não quer calar.
Como se consegue facilmente tantos recursos para um estádio de futebol, e não
temos recursos para financiar adequadamente a saúde, a educação, o saneamento,
a infância e a juventude?
Assim, finalizo esta breve
análise critica da situação de alguns setores fundamentais para a sociedade dos
anos de governo socialista em Pernambuco. É mostrado o lado dos problemas e da
exclusão que afligem a população. O outro lado, das promessas, ilusões, este é
mostrado pela grande mídia, cujos interesses, em muitos casos, são nada
republicamos. Finalizaremos este tema com o terceiro e último texto, falando
dos governantes que são transformados em gênios e salvadores da pátria, da
noite para o dia, e como uma eficaz máquina de propaganda faz milagres.
Heitor Scalambrini Costa- Professor
da Universidade Federal de Pernambuco.
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