
O jornalista Lúcio Flávio Pinto
edita o “Jornal Pessoal” há 25 anos (Foto: Miguel Chikaoka)
Reconhecido no final do ano
passado com o Prêmio Especial Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos,
entre as várias homenagens recebidas por seu trabalho nos últimos anos, o
jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, que edita há 25 anos o Jornal Pessoal,
foi novamente condenado pelo judiciário paraense. Desta vez, ele deverá pagar a
quantia de R$ 410 mil (ou 600 salários mínimos) ao empresário Romulo Maiorana
Júnior e à empresa Delta Publicidade S/A, de propriedade da família dele,
também detentora de um dos maiores grupos de comunicação da Região Norte e
Nordeste, as Organizações Romulo Maiorana.
A decisão da desembargadora
Eliana Abufaiad, que negou o recurso interposto pelo jornalista no primeiro
semestre de 2012, data de 21 de novembro de 2012, mas foi publicada apenas em
22 de janeiro com uma incorreção e, por causa disso, republicada nesta
quarta-feira, dia 23. O jornalista vai recorrer da decisão, tentando levar o
caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas teme que a condenação seja
confirmada.
Romulo Maiorana Júnior alega ter
sofrido danos morais e materiais devido à publicação, em 2005, do artigo “O rei
da quitanda”, no qual o jornalista abordava a origem e a conduta do empresário
à frente de sua organização. Por causa desse texto, em 12 de janeiro do mesmo
ano, Lúcio Flávio foi agredido fisicamente pelo irmão do empresário, Ronaldo
Maiorana, junto com dois seguranças deste em um restaurante de Belém.
Depois da agressão, o jornalista
também se tornou alvo de 15 processos judiciais, penais e cíveis, movidos pelos
irmãos. Chegou a ser condenado em 2010 a pagar uma quantia de R$ 30 mil, mas
recorreu da decisão do juiz Francisco das Chagas. A recente decisão da
desembargadora Eliana Abufaiad, se confirmada, significará um duro golpe às
atividades desempenhadas por ele, que não dispõe de recursos financeiros para
arcar com as indenizações.
Lúcio Flávio Pinto, que já perdeu
todas as vezes em que recorreu às condenações judiciais e vê nesses processos
uma clara tentativa de impedimento à realização do seu trabalho junto à
imprensa, lamenta o fato de juízes e o próprio Tribunal de Justiça do Pará não
terem avaliado o mérito dos recursos por ele apresentados.
“Os tribunais se transformaram em
instâncias finais. Não examinam nada, não existe mais o devido processo legal.
E isso não acontece só comigo. São milhares de pessoas em todo o Brasil, todos
os dias, que não têm direito ao devido processo legal. Em 95% dos casos
julgados no país rejeitam-se os recursos. Não tem jeito”, afirma. Ele também
informa que há outra ação judicial em curso, ainda a ser julgada, na qual
Romulo Júnior pede R$ 360 mil de indenização também por danos morais e
materiais.
Perseguição judicial – Lúcio
ficou ainda mais conhecido no início de 2012 quando foi alvo de uma condenação
que mobilizou pessoas e organizações, nacionais e estrangeiras, que o obrigaria
a indenizar a família do falecido empresário Cecílio do Rego Almeida. O crime
teria sido chamar de “pirata fundiário” o homem que tentou fraudar e se
apropriar ilegalmente de quase 5 milhões de hectares de terras públicas, na
região paraense do Xingu, denúncia posteriormente comprovada pelo próprio
Estado.
Por fazer uma radiografia
minuciosa e crítica da região, o que o tornou um dos maiores especialistas em
temas amazônicos, e reportar tentativas de fraudes aos cofres públicos, erros e
desmandos do poder judiciário local, o jornalista foi alvo de exatos 33
processos desde 1992.
Já sofreu agressões físicas e
verbais por causa de seus artigos, sem declinar o direito de veicular
informações de interesse público, em seu jornal quinzenal reconhecido pela
qualidade do conteúdo em detrimento de uma produção quase artesanal.
Fonte: site revista fórum.com
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