Em entrevista ao site Viomundo, o líder da
Bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Alencar Santana
Braga, explica o papel do poder legislativo no combate à violência, neste
momento de crise que vive o Estado.
A Bancada do PT na Assembleia Legislativa
apresentou, na última semana, pedido de abertura de CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) para investigar a responsabilidade de agentes públicos e
políticos da área da segurança pública do governo paulista, que deixaram de
adotar providências na onda de ataques a policiais militares e seus familiares,
mesmo após terem sido comunicados pela Polícia Federal e Ministério Público
Estadual.
Os sucessivos governos tucanos têm barrado
sistematicamente a criação de CPIs na Assembleia. Quando não conseguem,
inviabilizam, na prática, a sua realização.
Leia a entrevista:
Viomundo – Com esse retrospecto
sombrio, acredita mesmo que essa CPI sairá ?
Alencar Santana — O governo
possui a grande maioria na Assembleia que normalmente impede o trabalho da
oposição, em especial a criação de CPIs para se apurar irregularidades e
responsabilidades que envolvam os órgãos e autoridades estaduais. Neste caso,
por tratar de crise na segurança que está afetando a sociedade como um todo,
esperamos que os deputados da base governista colaborem na apuração de eventual
omissão por parte do secretário de Segurança Pública.
Nos últimos dias, a imprensa divulgou
relatórios da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que registram
conversas telefônicas entre bandidos. Nessas conversas, são dadas ordens de
morte a PMs. Por esses relatórios, há, pelo menos, três meses era do
conhecimento de autoridades do Estado essa onda de violência que estamos
vivendo.
Viomundo — E se a CPI sair, não
acabará em mais uma pizza “em nome da governabilidade”?
Alencar Santana — Se sair,
trabalharemos para que não vire pizza.
Viomundo — O que espera dessa
CPI?
Alencar Santana — O importante é a apurar as
razões desta onda de violência, as responsabilidades das autoridades de segurança,
as omissões diante das informações prévias dos ataques, eventuais excessos
cometidos pelas autoridades e também colaborar no debate em busca de soluções.
Viomundo – No momento, esse é o
papel do poder legislativo no combate à violência?
Alencar Santana – Com certeza. Assim como
participar ativamente no debate de políticas publicas para essa área, exigir
mais investimentos em recursos humanos, formação, inteligência e melhores e
mais equipamentos de trabalho.
Viomundo – As autoridades do
Estado sabiam há, pelo menos, três meses do risco de policiais serem atacados
por integrantes do PCC. O que levou o governo paulista a se omitir? Seria para
não ter impacto nas eleições municipais?
Alencar Santana — Muito estranha a omissão do
governo paulista. Acredito que, além do temor do impacto eleitoral, agiram
assim por dois outros motivos: em 2006, fizeram acordo com o crime organizado e
não acreditavam no rompimento; e também porque não possuem um serviço de
inteligência qualificado a ponto de prever isso.
Viomundo — Há denúncias de que os
números da violência em São Paulo são maquiados. Os números de mortos
(policiais e civis ) que estão sendo divulgados atualmente são reais?
Alencar Santana — Não dá para informar se
estão sendo ou não maquiados neste momento, mas é algo que poderíamos
esclarecer com a CPI.
Viomundo — A situação atual é
igual ou pior do que a de 2006?
Alencar Santana – Estamos reféns do crime
organizado, como ficamos em 2006. Só que a tática mudou. Agora, estão
utilizando tática de guerrilha, com ataques pontuais e dispersos, inclusive
contra soldados à paisana. Eles sabem exatamente quem estão atacando.
Para piorar, há a sensação de impotência que o
governo de São Paulo está passando diante da insegurança que as pessoas estão
vivendo. O crime organizado mudou sua tática e o governo de São Paulo, o maior
estado de país, provou que está despreparado para enfrentá-lo.
Quer um exemplo simples de como estamos
despreparados? Os policiais estão sendo obrigados a fazer rodízio de coletes à
prova de bala, porque não há coletes em número suficiente para todos. Uma
vergonha! Isto é São Paulo, onde o PSDB governo há anos. O duro é que ainda
hesita em receber ajuda do governo federal…
Viomundo – Em São Paulo, a
política de segurança pública está sendo determinada pela ROTA. O que acha
disso?
Alencar Santana — Parece que o governo adotou
a política do confronto, da vingança privada, como se vivêssemos numa sociedade
sem lei. Isto não resolve o problema da segurança, não elimina o crime
organizado, só gera mais violência.
Viomundo – Quem mora na periferia
conhece o drama de jovens mortos pela própria polícia. Frequentemente são
pobres e/pretos. Como avalia essas mortes?
Alencar Santana — Lastimável. Demonstra o
preconceito da polícia de São Paulo contra as populações vulneráveis. O jovem
já não tem opção de lazer na periferia. Agora, está sendo obrigado a ficar confinado
dentro de casa com medo da polícia e do crime organizado.
Viomundo — E se CPI não sair?
Alencar Santana — A solução do problema está
nas mãos do governo estadual, que tem de agir com inteligência, de forma eficaz
e integrada, tanto com os seus órgãos de segurança e policiais quanto com o
governo federal.
À Assembleia cabe apurar eventuais
responsabilidades pelos excessos ou omissões, assim como participar do debate
cobrando providências. Se não tivermos êxito na CPI, estudaremos a
possibilidade de uma representação contra o secretário da Segurança pela
omissão em adotar medidas preventivas diante das informações que os ataques
ocorreriam.
A CPI proposta pretende
esclarecer questões como:
. Por que, apesar alertadas há três meses pela
Polícia Federal e pelo Ministério Público de que o PCC desencadearia nova onda
de ataques a PMs, as autoridades paulistas não tomaram nenhuma medida proteger
os policiais e familiares?
. Quem foram os responsáveis pela negligência?
Os agentes públicos ou os políticos da área da segurança pública do governo
paulista?
. Por que, já com a crise em andamento, o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) cortou do pagamento dos PMs um benefício que
significava 500 reais a mais no salário? Alckmin, aproveitando-se do barulho em
torno do julgamento do mensalão, foi ao Supremo Tribunal Federal (STF), em
Brasília, apresentar liminar para derrubar decisão do Tribunal de Justiça de
São Paulo (TJ-SP) que autorizava o recálculo de diferenças salariais da
categoria. E conseguiu.
. Por que é a ROTA que dita a política de
segurança pública do Estado de São Paulo?
O pedido de CPI já conta com 28 assinaturas:
24 petistas, duas do PCdoB, uma do PSOL e uma do PDT. Para um pedido de CPI ser
protocolado são necessárias 32 assinaturas. A coleta prossegue.
Fonte :site PT Alesp
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