George Friedman - A implementação das políticas neoliberais
tem levado a resultados desastrosos para a economia e a sociedade capitalista
sob a farsa do “livre mercado”
O sistema capitalista conseguiu
se recuperar da Grande Depressão dos anos de 1930 somente com a Segunda Guerra
Mundial por causa do macabro pleno emprego gerado pelo esforço de guerra às
custas de uma gigantesca destruição das forças produtivas. Em 1958, a economia
capitalista alcançou o nível de pré-guerra. A partir da segunda metade da
década de 1960, o capitalismo começava a “engasgar” novamente – inflação,
desemprego. Os EUA, sufocados pelos gastos na Guerra do Vietnam, acabaram com
os acordos de Bretton Woods em 1971 e, do dia para a noite, abandonaram a
conversibilidade do dólar para o padrão ouro.
A crise mundial do petróleo de
1974 colocou em xeque as políticas keynesianas. O neoliberalismo, O
neoliberalismo, que tinha sido uma corrente econômica ultraminoritária até a
década de 1970, foi catapultado ao primeiro plano da política econômica, em
cima dos fartos recursos de Wall Street e a Citi de Londres.
A primeira experiência na
implementação das políticas neoliberais – o Chile de Pinochet
Apesar da propaganda neoliberal
sobre a suposta necessidade de diminuir a intervenção do estado burguês na
economia, como o mecanismo para fortalecer “os direitos individuais e a
democracia”, as políticas neoliberais foram implementadas, desde o início, a
sangue e fogo, com ataques gigantescos contra as massas trabalhadoras e a
entrega dos recursos públicos a preço de banana para as multinacionais
imperialistas. A repressão militar, as torturas, os assassinatos, a supressão
dos direitos e as liberdades democráticas sempre estiveram associadas ao
neoliberalismo, pois, além da farofada propagandística, o verdadeiro objetivo
era viabilizar os lucros dos capitalistas a qualquer custo.
A primeira experiência que
implementou as políticas neoliberais em larga escala foi a ditadura militar deo
sanguinário general Augusto Pinochet, no Chile. Durante os primeiros vinte
meses de governo, após o golpe de estado de setembro de 1973, o governo privatizou
várias empresas públicas, abriu o País a novos esquemas da especulação
financeira, aboliu o controle de preços, abaixou os impostos às importações e
reduziu o orçamento público em 10%, apesar de ter aumentado os salários dos
militares.
Em pouco mais de um ano, a
inflação e o desemprego dispararam. A inflação dobrou em 1974, para 375%. As
empresas nacionais quebraram em massa, devido à inundação de produtos
importados.
Perante tão rotundo fracasso, o
próprio Milton Friedman viajou a Santiago de Chile em março de 1975, que
recomendou, como solução milagrosa, exatamente a mesma receita que está sendo
aplicada hoje – mais do mesmo.
Em 1975, o orçamento público foi
cortado em 27%. A saúde e a educação pública foram desmanteladas, a seguridade
social e até os cemitérios foram privatizados. A economia se contraiu em 15% e
o desemprego bateu o recorde histórico de 20% para alcançar, em 1982, 30% dos
trabalhadores. Nesse ano, o colapso econômico somente não aconteceu porque a
ditadura de Pinochet não chegou a privatizar a Codelco, a empresa de cobre,
responsável por mais de 80% das receitas provenientes das exportações. Na
década de 1980, Pinochet voltou a nacionalizar várias empresas.
Políticas similares foram
implementadas nas outras ditaduras da região – no Uruguai e na Argentina, com
os mesmos resultados catastróficos.
O capitalismo, de conjunto, se
via numa encruzilhada, perante os efeitos das políticas neoliberais. A crise
capitalista continuava avançando e as ditaduras que tinham proliferado após a
Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de conter o avanço da revolução nos
países atrasados, enquanto nos países desenvolvidos se implementava o “estado
de bem-estar social”, passaram a desmoronar, uma atrás da outra, como efeito do
novo ascenso das massas.
Em 1979, aconteceu a revolução no
Irã, que derrubou uma das ditaduras mais cruéis e próximas ao imperialismo
norte-americano, responsável pelo fornecimento de grandes quantidades de
petróleo.
No início da década de 1980, a
crise capitalista continuou se aprofundando.
A implementação das políticas
neoliberais nos EUA e na Grã Bretanha
A vitória de Ronald Reagan, nos
EUA, e de Margareth Thatcher, na Grã Bretanha, representou o ascenso da direita
ao poder após o fracasso dos setores de esquerda do imperialismo em conter a
crise – o democrata Jimmy Carter nos EUA e o trabalhista James Callaghan na Grã
Bretanha.
Carter tinha nomeado o neoliberal
Paul Vaulcker como presidente da Reserva Federal no final do mandato. Em agosto
de 1979, a economia estava em recessão, o desemprego e a inflação em disparada,
e os juros chegavam a 21%.
Thatcher, que tinha vencido as
eleições de 1979, tomou algumas medidas com o objetivo de desmontar o “estado
de bem-estar social” na Grã Bretanha e tentou enfrentar, sem sucesso, o
sindicato dos mineiros do carvão, que em 1974 tinha provocado blecautes, devido
ao corte no fornecimento de combustível para as centrais térmicas, e provocado
a queda do primeiro ministro, Ted Heath . Em 1982, a inflação e o desemprego
tinham dobrado e o governo estava tão desgastado, com a aprovação tendo caído
para 18%, que era dado como certo que Thatcher seria derrotada nas eleições.
O neoliberalismo encontrava-se
muito desacreditado. Além do triunfo da revolução iraniana em 1979, as
ditaduras continuavam caindo uma após a outra – Nicarágua, Equador, Peru,
Bolívia e outras.
A situação foi revertida com a
vitória britânica na Guerra das Malvinas, em 1982. Enquanto a ditadura militar
argentina desabava, o índice de aprovação de Thatcher passou para 59% e venceu
as eleições realizadas no ano seguinte.
O aprofundamento da crise
capitalista continuava deteriorando a qualidade de vida dos trabalhadores. Em
março de 1984, o sindicato britânico mais forte do País, o dos trabalhadores
das minas de carvão, que tinham sido nacionalizadas em 1947 e eram subsidiadas
em 70% pelo governo, entraram em greve. O governo enfrentou os grevistas com o
uso intensivo da força policial, deixando centenas de feridos e prendendo
milhares de trabalhadores; se manteve irredutível e conseguiu derrotar a greve
após um ano de paralisações.
A partir deste momento, as
políticas neoliberais correram soltas. Até 1988, foram privatizadas a empresa
de gás, as telecomunicações, os controles dos aeroportos, o setor do aço, a
British Airways e a British Petroleum.
O movimento sindical britânico
entrou em refluxo, do qual somente começou a se recuperar nos últimos anos.
Nos EUA, o governo Reagan também
tinha conseguido conter o avanço do movimento operário. Em 1981, derrotou a
greve dos controladores aéreos após demitir 11.400 trabalhadores de uma só vez.
O primeiro setor a ser
desregulado nos EUA foi o da aviação.
Com a implementação de reformas
neoliberais em larga escala, em 1982, a inflação foi controlada nos EUA.
Após a consolidação do
neoliberalismo como a política oficial nos EUA e na Grã Bretanha, o
imperialismo avançou um passo a mais, impondo a mesma política em escala
mundial.
A imposição do neoliberalismo em
escala mundial
A partir da imposição das
políticas neoliberais em larga escala na Grã Bretanha e nos EUA, o imperialismo
passou a impô-las em escala mundial.
A decisão da Reserva Federal
norte-americana, de 1981, de aumentar a taxa de juros para 21%, mantendo-a
nesse patamar até 1985, levou à disparada da dívida externa dos países
atrasados que tinham se endividado na década anterior, contraindo dívidas a
juros flutuantes, para onde se direcionaram altos volumes de capitais
parasitários excedentes.
Em 1985, a Bolívia foi
transformada na bola da vez. As políticas neoliberais, implementadas sob a
cobertura da contenção da hiperinflação, também trouxeram resultados
catastróficos. O desemprego passou de 20% para 30% dois anos depois. Os
salários reais se desvalorizaram em 40%. Estima-se que, em 1989, um de cada dez
trabalhadores estava trabalhando nas indústrias da coca ou mesmo da cocaína. A
exportação de drogas ilegais superava às legais. Com o objetivo de conter os
protestos populares, o governo de Victor Paz Estensoro decretou o estado de
sítio.
A partir de 1989, a Polônia foi o
primeiro país do bloco soviético a implementar as políticas neoliberais. Em
apenas dois anos, a produção industrial caiu em 30% e o desemprego alcançou os
25% em 1993. Nas eleições seguintes, o Solidariedade, que tinha vencido de
lavada as eleições de 1989, somente conseguiu 10,6% dos votos.
O exemplo polonês deixou claro
para a burocracia que governava a União Soviética o que deveria acontecer a
seguir. Mijail Gortvachev encabeçou a chamada Glasnost e a Pereistroika que, no
fundamental, significavam a abertura do regime estatal soviético para uma “economia
de livre mercado” neoliberal, sob o controle dos próprios burocratas e as
multinacionais imperialistas.
Enquanto isso, na China, as
gigantescas manifestações que levaram ao massacre da Paz Celestial, de 1989,
tinham sido provocadas pela abolição do controle de preços, a liberalização dos
salários, que conduziu a cortes e à disparada do desemprego, enquanto começavam
a proliferar os novos milionários. Os protestos foram sufocados, mas as medidas
neoliberais, inclusive as que tinham sido congeladas antes dos protestos
estourarem, continuaram a ser implementadas. Em 1992, o XIV Congresso do
PCChinês definiu que o País faria uma reforma para passar de uma “economia
planificada” para uma “economia socialista de mercado”. A província de
Guangdong, onde tinham sido implantadas as ZES (zonas econômicas especiais)
passou a ser o modelo a ser seguido e “aperfeiçoado”.
A partir do início da década de
1990, as políticas neoliberais eram implementadas em larga escala no mundo
inteiro. A destruição das forças produtivas e a espoliação das massas
trabalhadoras alcançava níveis históricos.
A imposição do neoliberalismo na
Rússia
As políticas neoliberais foram
impostas na Rússia durante o governo de Boris Yeltsin, a partir de 1991,
principalmente, a partir do golpe de estado de 4 de outubro de 1993.
No dia 28 de outubro de 1991,
Yeltsin suspendeu o controle de preços. A seguir foi decretada a liberalização
do comércio e um gigantesco programa de privatizações que contemplava, na
primeira fase, 225 mil empresas públicas. No ano seguinte, os ingressos da
população russa caíram 40% e a terceira parte caiu abaixo da linha de pobreza.
A especulação financeira correu
solta. As bolsas rendiam 2.000% em três anos.
A partir da reeleição de Yeltsin
em 1996, as privatizações, a preço de banana e em cima de recursos públicos,
avançaram em cima do filé mignon da economia russa – a indústria petrolífera,
do aço, as ferrovias e o sistema bancário. A diferença do que aconteceu na
maioria dos demais países, na Rússia, uma fatia importante da economia ficou
nas mãos dos novos capitalistas locais, antigos membros da burocracia
estalinista do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), que tinham fortes
vínculos com o estado russo. Sob esta base social está estruturado o
nacionalismo russo atual.
Em 1998, a economia russa,
fortemente fragilizada pela rapina neoliberal, desabou perante a pressão da crise
capitalista que atingiu em cheio a Ásia. O índice de popularidade de Yeltsin
caiu para o recorde mundial de 6%. Mais de 30% da população vivia em condições
de pobreza extrema, miseráveis.
O neoliberalismo transformado na
política oficial em escala mundial
No mês de novembro de 1989, o
FMI, o Banco Mundial e o Tesouro dos EUA lideraram a validação de uma série de
políticas que ficaram conhecidas como o Consenso de Washington.
Havia dez componentes principais,
cuja implementação passou a ser monitorada pelos principais organismos
controlados pelo imperialismo - oFMI, o Banco Mundial, o GATT (Acordo Geral
sobre Tarifas e Comércio), transformado posteriormente na OMC (Organização
Mundial de Comércio, e a OCDE; na Europa, a UE (União Europeia), a Comissão Europeia
e o BCE (Banco Central Europeu).
Os principais recursos dos países
foram direcionados para a especulação financeira, sob o controle e para o
benefício das potências imperialistas. Disciplina fiscal tornou-se sinônimo da
priorização dos pagamentos da dívida pública a qualquer custo. Redução dos
gastos públicos: cortar os gastos com os programas sociais e os serviços
públicos. Reforma tributária: redirecionar os impostos para os gastos estatais
prioritários, em primeiro lugar, a dívida pública. Juros de mercado: favorecer
o sistema financeiro. Câmbio de mercado: deixar as moedas nacionais a mercê dos
interesses dos especuladores imperialistas. Abertura comercial: desestruturar
as indústrias locais e abertura para as importações, conforme os interesses
imperialistas. Investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições:
entregar em massa os recursos nacionais para os imperialistas. Privatização das
estatais: entregar as empresas públicas a preço de banana para os
imperialistas. Desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e
trabalhistas): reduzir amplamente os impostos dos capitalistas, arrocho
salarial, além da situação de verdadeiro far-west, que conhecemos hoje muito
bem, em favor dos maiores lucros a qualquer custo. Direito à propriedade
intelectual: monopólio tecnológico pelas multinacionais imperialistas, que
usufruem royalties parasitários.
A OMC, fundada em 1995, foi
dotada de poderes supranacionais que lhe permitem interferir nas legislações
nacionais.
O papel do BCE, dominado pelo
imperialismo alemão, foi impulsionado, principalmente, a partir de 2002, pelo
chanceler alemão Gerhard Schroder.
A Argentina: de exemplo da
implementação do neoliberalismo ao colapso
Desde 1989, o governo argentino,
liderado por Carlos Menen e o ministro de Economia, Domingo Cavallo, aplicou,
ao pé da letra, as políticas neoliberais impostas pelo FMI e os demais
organismos imperialistas. Praticamente, todas as empresas estatais foram
privatizadas, o comércio exterior liberalizado e o controle de câmbios
eliminado. A própria Constituição passou a impedir a mudança da paridade do
peso em relação ao dólar. As demissões de funcionários públicos aconteceram em
larga escala e os salários e aposentadorias foram arrochados.
Em apenas uma década, o País
entrou em colapso. A dívida externa passou de US$ 16 bilhões para US$ 132
bilhões.
Apos ter mergulhado quatro anos
em profunda recessão, em dezembro de 2001, a economia argentina entrou em
colapso.
Perante o enorme descontentamento
social, o próprio presidente Eduardo Duhalde, que assumiu o governo a seguir,
declarou a necessidade de mudar o modelo “…que atirou para a pobreza dois
milhões de compatriotas, destruiu a classe média, arruinou as nossas indústrias
e reduziu a nada o trabalho dos argentinos”.
O neoliberalismo barre a África
Os chamados “anos dourados”
capitalistas, que se seguiram durante aproximadamente duas décadas após a
Segunda Guerra Mundial, se restringiram
exclusivamente aos países imperialistas. A África conheceu o avanço das lutas
anti-imperialistas no período, que levou à tomada do poder por movimentos
nacionalistas num grande número de países, a partir da década de 1960, que
passaram a adotar medidas que favoreciam as massas trabalhadoras e eram contrárias
aos interesses das potências imperialistas.
O apito inicial para a escala do
neoliberalismo na região foi dado pela África do Sul, o pais mais desenvolvido
da África negra. O regime do apartheid tinha ficado muito enfraquecido devido
ao aprofundamento da crise capitalista que tinha provocado o ascenso do
movimento grevista e revolucionário, acentuado após a derrota do exército
racista na histórica batalha de Cuito Cuanavale, em 1987-1988, pelas forças
angolanas, cubanas e os guerrilheiros da Namíbia.
No início de 1990, Nelson
Mandela, que tinha ficado encarcerado durante 27 anos pelo regime do Apartheid,
fez um acordo com o governo racista de F. W. Klerk para promover a “transição
pacífica para a democracia”. O acordo foi uma tremenda capitulação à burguesia
racista branca e ao imperialismo, que se comprometia a manter em pé os
privilégios econômicos e concorda em promover as políticas econômicas em larga
escala no País.
Para conter o avanço das massas
populares, a frente popular que subiu ao governo foi estruturada com base no
acordo entre o CNA (Conselho Nacional Africano), a Cosatu (central sindical) e
o PCS (partido estalinista), que possibilitou manter a estabilidade do novo
regime até as enormes greves dos trabalhadores mineiros que aconteceram neste
ano.
A medidas neoliberais se
sucederam uma atrás da outra. Independência do Banco Central; permanência no
Ministério das Finanças do ministro branco racista e neoliberal Derek Keyes;
proteção à propriedade privada a qualquer custo, o que impossibilitou a
implementação da reforma agrária, uma das principais bandeiras históricas do
CNA e da luta do pobre negro.
O programa econômico, publicado
em 1996, levou a colocar em pratica, de maneira plena, as medidas estipuladas
pelo Consenso de Washington e inviabilizou qualquer possibilidade de melhoria
das condições de vida das massas trabalhadoras: mais privatizações a preço de
banana, cortes nos investimentos públicos e nos gastos sociais, ataques contra
os direitos trabalhistas, abertura comercial e cambial. O governo chegou a
rejeitar a sugestão da Comissão de Verdade e Reconciliação, que propunha um
pagamento de 1% do faturamento das empresas, uma única vez, para levantar
fundos com o objetivo de indenizar às vítimas do apartheid. No sentido oposto,
o governo do CNA continuou a pagar as dívidas contraídas pelo regime racista, o
que, só até o final da década, custou US$ 4,5 bilhões.
No final da década de 1990, os
preços e o desemprego tinham disparado, milhões de pessoas deixavam de ter
acesso aos serviços públicos básicos, como água encanada, energia elétrica e
telefonia, devido à impossibilidade de pagar as altas tarifas. A burguesia
branca e as multinacionais imperialistas continuaram controlando a mineração,
principal componente da economia, os bancos e os principais setores.
Políticas parecidas foram
implementadas nos demais países na região que foram direcionados à produção
espoliadora de matérias primas. Os programas sociais e os investimentos
públicos que favoreciam o desenvolvimento local foram desmontados.
Ao lado da burguesia branca
começou a crescer uma camada burguesa tão exploradora e reacionária como a
primeira.
O neoliberalismo no Brasil
No Brasil, o neoliberalismo foi
imposto de maneira mais lenta que nos países vizinhos devido as peculiaridades
históricas e locais. Tendo herdado a maior dívida externa do mundo e altas
taxas de inflação do regime militar, o governo Fernando Collor de Mello tentou
implementar políticas neoliberais, de maneira acelerada, sob a máscara de
combater a hiperinflação que, em 1990, tinha alcançado 1.500%. O
descontentamento de setores importantes da burguesia nacional levaram ao
impeachment apenas dois anos mais tarde, com a desaceleração ou congelamento
das medidas.
Foi o governo FHC que implementou
as políticas neoliberais em larga escala no País a partir de 1995, de maneira
tardia na comparação com os demais países da região. O Plano Real conseguiu
controlar a inflação ancorando a moeda nacional no dólar, ainda quando FHC era
ministro das Finanças do governo Itamar Franco. O controle das massas
trabalhadoras somente foi possível devido ao apoio do PT e da CUT.
Os principais setores da economia
nacional foram repassados para as multinacionais imperialistas em cima de
recursos públicos – o setor financeiro, as telecomunicações, a siderurgia, a
indústria metalúrgica, o setor elétrico, a saúde e a educação. A Vale foi
vendida por apenas US$ 3 bilhões, dos quais uma parte foi financiada com
recursos públicos e outra foi estornada na forma de abatimento nos impostos. A
Petrobras, apesar de não ter conseguido ser privatizada formalmente, foi
colocada sob o controle das multinacionais – 40% das ações foram colocadas na
Bolsa de Nova Iorque por ridículos US$ 7 bilhões; os serviços ficaram sob o
controle das petrolíferas; a lei de royalties, de 1997, é uma das mais
espoliadoras em escala mundial. Situações parecidas aconteceram em praticamente
todos os demais setores.
A abertura das fronteiras levou a
compra por preços irrisórios de ícones da indústria nacional como a Metal Leve,
Cofap e Cobrasma.
O chamado agronegócio, que
representa a aliança entre os latifundiários, o setor mais reacionário da
burguesia nacional, e as multinacionais, orientou a agricultura para a
monocultura depredadora e orientada à especulação financeira.
O parasitismo financeiro
disparou.
As condições de vida das massas
trabalhadoras se deterioraram fortemente devido aos processos de terceirização,
externalização, deslocalização, fragmentação, trabalho temporário ou eventual.
Durante o governo FHC, a indústria brasileira perdeu mais de dois milhões de
postos de trabalho, o que levou a uma enorme propaganda sobre o suposto fim da
classe operária. O movimento sindical, que tinha experimentado um ascenso importante
até a metade da década de 1985, entrou num grande refluxo do qual começou a se
recuperar recentemente conforme a crise capitalista mundial tem se aprofundado
no Brasil.
O segundo choque de
neoliberalismo nos EUA – os governos de George Bush Jr.
Durante os governos de George
Bush Jr. sucederam os governos de Bill Clinton, quem, por sua vez, aplicou o
programa econômico do Partido Republicano. Tomando como bandeira demagógica a
chamada “guerra contra o terror”, as políticas neoliberais foram implementadas
em escala ainda mais alta.
O ponto de partida do governo, em
janeiro de 2001, era a necessidade de encontrar novas fontes de altos lucros
que tinham se esgotado com o estouro da bolha da Internet e a queda do Índice
Dow Jones em 824 pontos. A terceirização
dos serviços públicos avançou de maneira acelerada, assim como a redução dos
impostos para as empresas e os especuladores.
Em apenas dois anos, o Pentágono
duplicou as verbas repassadas a fornecedores privados, US$ 270 bilhões anuais.
As agências de espionagem repassaram US$ 42 bilhões, o dobro de 1995. O recém
criado Departamento de Segurança Nacional (Homeland Security) repassou, entre
2001 e 2006, US$ 130 bilhões. Somente em 2003, o governo Bush Jr. repassou US$
327 bilhões nos contratos com fornecedores.
No Iraque, a farra financeira
alcançou níveis apocalípticos. Logo após a invasão, Paul Bremer, o encarregado
pela política econômica no País, abriu as fronteiras às importações e declarou
que as 200 maiores empresas seriam privatizadas, a começar pela empresa
nacional de petróleo.
As medidas incluíram a redução
dos impostos pagos pelas grandes empresas, de 45% para 15%, as multinacionais
puderam ser proprietárias de 100% dos negócios, a remessa de lucros poderia ser
de 100% e ainda sem pagar impostos. As concessões tinham duração de 40 anos com
a possibilidade de renovação.
A privatização da empresa
nacional de petróleo foi adiada até 2007, mas os invasores se apropriaram dos
US$ 20 bilhões que havia em caixa.
Fartos recursos públicos foram
destinados às multinacionais imperialistas para a reconstrução do Iraque.
A privatização do esforço de
guerra foi levado ao extremo. Estimativas apontaram que, em certos momentos,
haviam dois contratistas para cada soldado norte-americano em solo.
A resistência do povo iraquiano
foi responsável pelo colapso das políticas dos invasores no País. A guerra do
Iraque enfraqueceu enormemente o imperialismo norte-americano que, além de ter
aumentado enormemente o endividamento público, foi derrotado militarmente.
Ambos fatores o obrigaram inclusive a reformular a política militar.
Apesar do fracasso, as políticas
neoliberais têm continuado a ser implementadas devido à falta de alternativas
para manter as obscenas taxas de lucro dos especuladores financeiros. Elas
foram muito além da privatização dos serviços públicos em New Orleans, após o
desastre que aconteceu após a passagem do furacão Katrina, para a qual foram
destinados nada menos que US$ 20 bilhões em recursos públicos.
O colapso capitalista de 2007-2008
levou à lona o sistema financeiro norte-americano e várias multinacionais não
financeiras. Os trilhões repassados nos últimos quatro anos, assim como as
políticas públicas, levaram o endividamento público a bater, de maneira
recorrentes, todos os recordes históricos imagináveis, numa espécie de
keynesianismo neoliberal. Os mecanismos de contenção desabaram em escala
mundial, a partir do segundo semestre do ano passado e, com particular força,
no segundo trimestre deste ano, deixando evidente a gigantesca podridão da
economia e da sociedade.
Fonte: site PCO
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