“O governo Dilma não conseguiu
nem resolver o problema social das 150 mil famílias que estão acampadas, algumas há mais de cinco anos, ao longo de estradas brasileiras. Por tanto, o
governo Dilma abandonou a reforma agrária, iludido com o sucesso do
agro-negócio, que produz, ganha dinheiro, mas concentra a riqueza e a terra e
aumenta a pobreza no campo.”
1. Vocês enquadram a gestão do PT
dentro do modelo do neo-desenvolvimentismo? Por que?
A formulação que os movimentos
sociais fazemos, entre eles o MST, a via campesina, é que de os governos Lula e
Dilma são fruto de uma frente política de classes da sociedade brasileira. Dela
participam desde a grande burguesia até os mais pobres. E isso dá estabilidade
e popularidade ao governo, porém o mantém como governo de composição de
classes, com decisões heterogéneas e, às vezes, até contraditórias, ora
beneficiam a burguesia, ora os trabalhadores, ora os mais pobres. No plano
económico, o próprio governo tem se autodefinido como neo-desenvolvimentista. É
uma alternativa importante ao projecto tucano e do imperialismo, o
neoliberalismo. O neo-desenvolvimentismo procura desenvolver políticas que
gerem crescimento económico e distribuição de renda. Isso é importante, porém
insuficiente. Os problemas graves da sociedade brasileira, como emprego para
todos, terra para todos sem terra, universalização da educação, moradia digna
para todos, e acesso à cultura, somente conseguiremos resolver com reformas
estruturais. E elas somente serão viáveis com a retomada da mobilização de
massas e se tivermos, dentro do governo, uma correlação de forças de partidos
mais compromissados com os trabalhadores.
2.Em relação à reforma agrária,
quais os avanços e recuos durante estes dez anos?
Nos últimos dez anos, não houve
avanços em termos de reforma agrária. Reforma agrária é uma política pública
que leve a democratização da propriedade da terra, como bem da natureza, ao
maior número possível de seus cidadãos. Nos últimos dez anos, se ampliou a
concentração da propriedade da terra. E pior, concentrou inclusive nas mãos de
empresas de fora da agricultura e do capital estrangeiro. O governo Dilma não
conseguiu nem resolver o problema social das 150 mil famílias que estão
acampadas, algumas há mais de cinco anos, ao longo de estradas brasileiras. Por
tanto, o governo Dilma abandonou a reforma agrária, iludido com o sucesso do
agro-negócio, que produz, ganha dinheiro, mas concentra a riqueza e a terra e
aumenta a pobreza no campo.
3. Como você o avalia o governo
Dilma do ponto de vista ideológico: de um a 10, qual a nota?
A presidenta Dilma tem um bom
desempenho pessoal e ideológico, daria oito. A composição de seu governo,
formada pelas forças políticas que detêm o controlo dos ministérios, é bem pior
do que no governo Lula. São prepotentes e desconhecem as prioridades do povo.
Ainda estão navegando com as políticas sociais do governo Lula. Daria 5 para
eles.
4. Gestões municipais
progressistas podem ajudar o fortalecimento de organizações como o MST que
defendem a agricultura familiar e a economia solidária?
Nós somos devotos de Santo
Antonio Gramsci, o mais interessante dos santos italianos, sobretudo porque foi
um sábio e comprometido com os trabalhadores. E ele dizia que a luta de classes
ocorre em todos os espaços da sociedade moderna. Seja nas disputas eleitorais,
seja em muitos espaços de pequenos poderes, que ele chamava de “estado
ampliado”. Por tanto, todos os espaços, um jornal, uma rádio, uma televisão
comunitária, um sindicato, uma prefeitura, um governo do estado… Todos são
espaços que podem acumular forças para o projecto da classe trabalhadora ou
podem acumular forças para os capitalistas e os exploradores. Nós acreditamos e
defendemos que as prefeituras podem e devem ser espaços importantíssimos para
desenvolver políticas públicas a favor das necessidades do povo, democratizar a
participação popular nas decisões municipais, etc.
5. Há partidos e organizações de
vanguarda preocupados com esta construção? Que movimentos você enxerga como
atores políticos no futuro imediato e de médio prazo?
Infelizmente, no sentido genérico
e incluindo todas as categorias do campo e da cidade, vivemos um período de
refluxo do movimento de massas. E isso retirou força política para a classe
actuar nas disputas da sociedade. Porém, esses períodos são limitados, em algum
momento virá um novo processo de acenso. Ninguém sabe quando, nem como. E
somente nos períodos de reascenso é possível rearticular formas organizativas e
forças políticas-ideológicas. Por isso que agora estamos vivendo uma
pasmaceira, em termos de organização política, que nos leva apenas a disputar
eleições. Que são necessárias, porém insuficientes para o projecto da classe
trabalhadora. Então, em períodos difíceis como esse, temos de investir na
formação de militantes, no estímulo da luta social, e na construção de meios de
comunicação alternativos…até que a maré mude..
6. O MST há muito denuncia a
judicialização da política no Brasil. Esta ofensiva de direita em torno da exploração
política do mensalão, como ferramenta de combate ao PT, é parte do mesmo
processo de subordinar direitos políticos ao judiciário?
Claro. A classe dominante
brasileira é muito esperta e experiente. Não é por nada que manda há 500 anos.
Ela sabe que não tem hegemonia no governo federal. Participa, mas não manda.
Então, para se contrapor às forças da classe trabalhadora, nos últimos dez
anos, a prioridade da burguesia, além de ganhar dinheiro na economia, tem sido
utilizar-se do judiciário e dos meios de comunicação para combater as ideias e
os programas da classe trabalhadora. E o episódio recente do STF é apenas um
capítulo dessa ofensiva e controle hegemónico que a burguesia tem sobre o
judiciário e o usará contra todos os que assumirem compromissos claros com a
classe trabalhadora.
7. Que peso você atribui à
regulação da media na construção de um país democrático e socialmente justo?
A classe dominante tem no
controle hegemónico da media, uma de suas principais armas para manter o
controlo da população, enganá-la e fazer a luta de classes contra o povo e os
trabalhadores. Por isso, é fundamental trabalharmos em duas direcções: primeiro,
lutar pela democratização dos meios de comunicação. Segundo, construirmos
nossos próprios meios de comunicação populares, para fazer essa disputa de
ideias, de forma democrática, mas com as mesmas condições.
Fonte: site ODiario Info
Nenhum comentário:
Postar um comentário